A canoa não vinha de vela erguida, nem do cais da Ribeira. Estava perto do Montijo, com uma bandeira da candidatura no mastro. O almirante Melo Gomes, no catamarã que transportou Sampaio da Nóvoa, entre o Cais do Sodré e o Montijo, na carreira das 9h, foi o primeiro a avistar o mastro da “Ana Paula” e a identificar aquela “embarcação típica do Tejo”.

Mas não há nada de típico nesta manhã de terça-feira. Nóvoa está “abalado” com a morte de Almeida Santos, que ainda nem sequer comunicou ao seu pai – que foi contemporâneo, em Coimbra, do fundador do PS – a notícia.  

A travessia do Tejo era para ser o primeiro ponto de uma agenda carregada de visitas na margem Sul, distrito de Setúbal. Viajar no catamarã da Transtejo era, para o candidato, “uma forma de valorizar os transportes públicos” e alertar para o problema ambiental dos movimentos pendulares feitos de carro, bem como para a “qualidade de vida nas periferias”.

O staff de Nóvoa cedo começou a debater qual seria a melhor forma de prestar homenagem a Almeida Santos. Nóvoa falou, logo à saída do barco, no Montijo. A sua “sentida homenagem” foi dirigida à família de Almeida Santos, mas também “aos socialistas e a todos os democratas”. O candidato salientou o percurso cívico do ex-Presidente da Assembleia da República, a sua “luta pela liberdade e pela consolidação da democracia”. E anunciou: “Iremos cancelar a campanha hoje durante a tarde e iremos retirar da campanha tudo o que tenha uma marca mais festiva.”

Desde logo, a descida do Chiado prevista para a tarde de quarta-feira, antes de a caravana rumar novamente a Norte. Agora, “toda a agenda está a ser revista”, explica fonte da candidatura.

As iniciativas previstas para a tarde de terça-feira, que teria uma visita a uma escola em Almada e a uma universidade sénior, foram canceladas. 

Porém, Nóvoa assumiu querer continuar envolvido no debate televisivo das presidenciais, previsto para esta noite, entre os dez candidatos, com transmissão pela RTP, até por ver nisso “uma forma de honrar o legado e acção de Almeida Santos”.

“Conheci-o bem, era amigo do meu pai. Tinha por ele uma enorme estima. É uma perda difícil para todos nós.”

O candidato seguiu depois para os estaleiros da Lisnave, em Setúbal, onde manteve encontros com a administração e com a comissão de trabalhadores. A importância da construção naval para o sector da economia do mar seria um dos pontos altos do dia. E o simbolismo dos estaleiros era, ele próprio, importante para este dia. Mas a campanha está, agora, em suspenso.