Nem banco mau nem espanholização, PS quer resposta europeia para a banca

Socialistas garantem que vão apresentar propostas para resolver problemas do sector bancário e pedem à banca para “não dizer que a culpa é da regulamentação”.

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O encontro desta tarde promovido pelo PS Nuno Ferreira Santos

Em plenas negociações no sector bancário, os socialistas quiseram debater o tema na sede do partido. Chamaram Fernando Ulrich, presidente Executivo do BPI, Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, mas pouco ou nada se ouviu sobre as duas grandes questões da actualidade da banca nacional: a "espanholização" da banca e a criação de um banco mau para o crédito malparado. Problema evitado numa discussão com a chancela do partido, até porque o debate sobre o sector bancário é quente entre o PS e os partidos que apoiam o Governo. No final da conferência, a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, preferiu apenas garantir que o partido não se vai fechar sobre si próprio e vai apresentar respostas para o sector, até porque o país “não pode viver no sobressalto, a pensar qual é o banco que vai falir amanhã”. Quais? Só mais tarde se saberá.

As soluções do partido ficam apenas para a altura do congresso, no início de Junho, e para já não são dadas pistas sobre qual o caminho a seguir. Apenas uma certeza: “É óbvio que as respostas não podem ser apenas nacionais, têm de ser necessariamente europeias”, disse na conferência organizada pelo PS com o título "O sector bancário em Portugal. Banca e economia: desunião de facto?". E nesse campo não podem passar por uma União Bancária “muito incompleta” e que tem “defendido mais a banca do que os depositantes”, disse Ana Catarina Mendes . E muito menos pode passar por uma União Bancária sem que seja "constituído o Mecanismo Europeu de Garantia de Depósitos".

Depois da discussão com dois painéis de oradores onde estiveram sentados Fernando Ulrich – que falou sobretudo da questão da "inexorável" concentração da banca e dos problemas para a concorrência –, Faria de Oliveira, mas também José António Barros, da unidade de missão para a capitalização de empresas, a dirigente socialista deixou um apelo a todos para que “dêem as mãos” porque “os governos não se podem fechar sobre si próprios, os partidos não se podem fechar e o sector bancário não pode dizer que a culpa é da regulamentação”.

Mas se o assunto está em cima da mesa, e talvez por ser um momento crítico, nem os socialistas nem os oradores desenvolveram muito sobre as duas principais questões, que têm sido levantadas até pelo próprio primeiro-ministro: a criação do banco mau para o crédito malparado dos bancos e a espanholização da banca.

Foi o próprio primeiro-ministro que revelou numa entrevista ao DN/TSF estar a pensar na ideia da criação de um banco mau para resolver o malparado, mas nesta conferência sobre o sector bancário em Portugal e que tinha como primeira discussão os “desafios presentes no sector bancário: os bancos e a sua viabilidade”, pouco ou nada se ouviu sobre o tema. Faria de Oliveira contou que neste momento o malparado ronda os 18 mil milhões de euros e apenas Carlos Costa Pina, ex-secretário de Estado do PS, defendeu a necessidade de se pensar numa solução que vá além de limpar “os balanços dos bancos”.

E quanto à espanholização da banca, apenas Luís Filipe Costa, do Montepio Investimento, criticou uma excessiva concentração de capital espanhol na banca portuguesa: “Não é indiferente se essa nacionalidade corresponde a um país com sectores concorrenciais com o nosso e se for um país com sectores concorrenciais muito diferentes do nosso. (…) Se [a banca] ficar em mãos espanholas – sem nenhuma diabolização – é expectável que haja algum grau de preferência por empresas do próprio país – até porque haverá pressões para que isso aconteça. Do ponto de vista das empresas não é inexorável nem indiferente que a nacionalidade seja diversificada”, defendeu.

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