Movimentações para as autárquicas fracturam duas concelhias do PS em Braga

"Vice" da Câmara de Vizela desafiou o presidente e acabou sem pelouros. Em Barcelos, a batalha entre o chefe do executivo e o líder da concelhia do PS pode ditar eleições antecipadas.

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Para já, o líder da federação distrital, Joaquim Barreto, diz ser preciso respeitar a autonomia das concelhias Hugo Delgado

A um ano e meio das próximas autárquicas, o PS tem duas das mais importantes concelhias do distrito de Braga dividias por guerras internas. O vice-presidente da Câmara de Vizela tentou garantir a sua escolha como candidato do partido às eleições de 2017, mas perdeu a disputa e acabou por ver serem-lhe retirados os pelouros na autarquia. Em Barcelos, o presidente da concelhia também foi afastado da câmara, depois de ter entrado em choque com o presidente.

O número dois da Câmara de Vizela, Vítor Hugo Salgado, tinha convocado uma assembleia extraordinária da comissão política concelhia para a passada quarta-feira. Nessa reunião, os socialistas foram chamados a escolher o candidato à presidência da câmara nas próximas eleições. O actual presidente da autarquia, Dinis Costa, acabou por vencer a disputa, por quatro votos de diferença (18-14). No dia seguinte, na reunião do executivo municipal, retirou os pelouros àquele que tinha sido, até então, o seu vice-presidente, com responsabilidades, por exemplo, sobre as finanças e as obras do município.

“É evidente que, depois daquela afronta, perdi a confiança política que tinha nele”, justifica Dinis Costa. Já Vítor Hugo Salgado tem-se mantido em silêncio nos últimos dias, mas agendou para a tarde desta terça-feira uma conferência de imprensa sobre o caso.

O PS ganhou todas as eleições locais desde a restauração do concelho, em 1998. Nas últimas autárquicas, obteve aqui que o melhor resultado distrital, com quase 48% dos votos, o que lhe valeu a eleição de quatro vereadores, contra três do PSD. Com a retirada de pelouros de Vítor Hugo Salgado, o executivo poderá ficar em minoria em votações importantes, mas Dinis Costa garante que a câmara “tem todas as condições para continuar a funcionar”.

Além do bastião vizelense, os problemas entre socialistas atingiram também Barcelos, uma das maiores concelhias do distrito em número de militantes. O presidente da Federação de Braga do PS, Joaquim Barreto, não faz, para já, comentários sobre os dois casos, invocando “respeito pela autonomia de cada concelhia”. Ainda assim, o líder distrital dos socialistas diz ao PÚBLICO que tem acompanhado as situações e que, se “se entender necessário, a Federação irá intervir” para sanar os conflitos no partido. Os estatutos do PS permitem que, em caso de problemas internos, as distritais possam avocar os processos de escolha de candidatos ou pedir a intervenção dos órgãos nacionais.

A situação em Barcelos é, porém, mais complexa do que em Vizela e pode levar a eleições antecipadas. Na sequência dos problemas internos dos socialistas, a câmara está neste momento reduzida a duas pessoas com funções executivas: o presidente, Miguel Costa Gomes, e a vereadora Armandina Saleiro. Na sexta-feira, o líder da autarquia retirou os poderes ao vereador Domingos Pereira, que é também deputado na Assembleia da República e líder da concelhia do PS. Em solidariedade, outros três eleitos socialistas, Alexandre Maciel, Elisa Braga e Carlos Brito, renunciaram aos seus poderes.

Além do PS, há outras duas forças políticas representadas no executivo, a coligação PSD-CDS e o Movimento Independentes por Barcelos, que têm quatro e um vereadores, respectivamente. Se não encontrar uma solução de governação nos próximos dias, Miguel Costa Gomes pode ver-se forçado a renunciar a este segundo mandato.

A concelhia liderada por Domingos Pereira promete escolher o próximo candidato à câmara com uma metodologia inédita, considerando o voto secreto de autarcas e membros dos órgãos locais do partido e o resultado de uma sondagem a realizar.

Para já, os problemas da concelhia socialista de Barcelos levaram ao adiamento da reunião do executivo municipal marcada para esta segunda-feira. Segundo a Lusa, Miguel Costa Gomes alegou que não estavam reunidas “as necessárias condições de serenidade e respeitabilidade" e cancelou a sessão, acusando os vereadores socialistas que abandonaram funções no final da semana passada de terem tido uma atitude “intimidatória” ao entrarem no edifício-sede do município “sem pedir licença”.

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