Morreu Nuno Brederode dos Santos

O cronista foi conselheiro político de Jorge Sampaio. Marcelo, Sampaio e Ferro já reagiram.

O cronista Nuno Brederode dos Santos morreu hoje de manhã, aos 73 anos, de doença prolongada, no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, onde estava internado há duas semanas, adiantou fonte familiar.

O velório decorrerá a partir das 15h de domingo no Museu da Cidade, de onde partirá o funeral no dia seguinte, 1 de Maio, também às 15h, para o Cemitério dos Prazeres.

Nuno Brederode dos Santos nasceu em Lisboa em 14 de Dezembro de 1944, e ficou conhecido pelas suas crónicas no semanário Expresso, que escreveu ao longo de 17 anos, tendo posteriormente passado para o jornal Diário de Notícias, entre 2006 e 2009.

Pelas suas crónicas no Expresso, ganhou o Prémio Gazeta Crónica, do Clube de Jornalistas, em 1990. No mesmo ano publicou uma coletânea dessas crónicas no livro 'Rumor Civil', publicado pela editora Relógio d’Água. Fez a sua vida profissional no Instituto de Participações do Estado, filiou-se no Partido Socialista em 1977 e foi conselheiro político do Presidente da República Jorge Sampaio, entre 1996 e 2006.

Nuno Brederode dos Santos foi companheiro da atriz Maria do Céu Guerra nos últimos 20 anos.

Visão e previsão

O ex-presidente da República Jorge Sampaio reagiu à morte do seu ex-conselheiro, lembrando o “analista político de enorme capacidade de visão e previsão” com “apurado espírito crítico e aguçado sentido de humor”.

"Acabo de perder um grande e velho amigo, muito próximo, companheiro de inúmeras lutas e que foi sempre um sólido e firme apoio ao longo da minha vida política, nomeadamente aquando da minha candidatura à presidência da República e durante os meus dois mandatos presidenciais”, refere Jorge Sampaio, num depoimento enviado à agência Lusa.

O antigo presidente da República considera Nuno Brederode dos Santos um “jurista de grande gabarito, observador atento da vida portuguesa, analista político de enorme capacidade de visão e previsão, dotado de uma inteligência fulgurante”. Para Jorge Sampaio, o cronista tinha uma “vasta cultura de leitor insaciável, um talento único para encontrar as palavras certas ou formulações” e “o dom de não deixar mais nada por dizer”.

“Nuno Brederode dos Santos foi um homem de convicções fortes, de ideais e princípios republicanos e de esquerda inabaláveis. Foi sempre uma pessoa muito disponível, solidária e a enorme liberdade com que desenhou e deu rumo à sua vida, permitiu-lhe abrigar nela longas e sólidas amizades”, sublinha, acrescentando que a sua morte “abre uma enorme e dolorosa cratera na trama do tempo que faz e desfaz as vidas humanas”.

Jorge Sampaio diz ainda que “o dia de hoje é de grande pesar, moldado por um sentimento de infelicidade profunda”.

Triste notícia

Numa nota enviada à agência Lusa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamenta a "triste notícia" da sua morte e apresenta as "mais sentidas condolências" à família de Nuno Brederode Santos, considerando que os portugueses sentirão falta da sua voz independente e crítica e que a melhor forma de o homenagear é cultivar o civismo esclarecido.

"Nuno Brederode Santos foi uma personalidade que marcou de forma discreta, mas profunda, os caminhos da democracia portuguesa, pela inteligência e pela argúcia do seu olhar sobre a realidade, pela capacidade analítica e lucidez das suas reflexões e pela elegância da sua escrita, onde ecoava a sua suave ironia e o seu irreprimível sentido de humor", refere.

O chefe de Estado recorda-o como "homem de inabaláveis convicções democráticas" que "manteve sempre a sua fidelidade aos princípios do socialismo europeu e aos valores do Estado de direito, da liberdade e da justiça".

Marcelo Rebelo de Sousa afirma que "os portugueses sentirão a falta da sua voz independente e crítica, nunca esquecendo o patriotismo e o sentido de amor a Portugal que nortearam a vida de Nuno Brederode Santos".

"A melhor forma de homenagearmos a sua memória - a memória de um homem bom, de quem tive o privilégio de ser amigo - é cultivarmos o civismo esclarecido e o são convívio democrático, no respeito pelas convicções alheias e pela diversidade de opiniões, e na certeza de que o diálogo e a elevação constituem regras basilares de funcionamento de uma democracia pluralista e amadurecida", acrescenta.

Grande humor

Também o presidente da Assembleia da República lamentou a morte do cronista Nuno Brederode dos Santos, recordando-o como "pessoa fundamental entre as gerações estudantis de 62 e 69" e "o maior de todos os amigos de Jorge Sampaio".

Numa nota enviada à agência Lusa, Eduardo Ferro Rodrigues refere ainda que Nuno Brederode dos Santos "teve, sempre, uma atitude, com textos magníficos, grande humor e acutilância, de defesa do avanço da democracia".

"Em meu nome e em nome da Assembleia da República, expresso sentidas condolências a toda a família e aos seus muitos amigos", acrescenta o antigo secretário-geral do PS.

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