O PS está muito próximo da "extrema esquerda", critica Maria Luís Albuquerque

A ex-ministra das Finanças falou aos jovens da Universidade de Verão do PSD sobre o papel do Estado e aproveitou para acusar o Governo de estar a fazer uma deriva à esquerda

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Maria Luís Albuquerque esteve na Universidade de Verão do PSD Rui Gaudêncio/Arquivo

A aula de Maria Luís Albuquerque, professora na Universidade de Verão do PSD, durou pouco duas horas e meia. A plateia, que na noite anterior se tinha reunido para os primeiros trabalhos de grupo, ouviu-a durante 40 minutos, fez perguntas, esperou respostas para perguntar de novo. O tema do debate era “O papel do Estado: amigo do crescimento ou cúmplice da crise?”   

A sucessora de Vítor Gaspar na pasta das Finanças falou de assuntos actuais como a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o crescimento económico nacional, a confiança dos investidores estrangeiros, a sustentabilidade da segurança social ou a questão das restrições europeias. E acusou o o PS de uma deriva à esquerda por ter revertido medidas que o PSD tinha posto em marcha para recuperar a credibilidade portuguesa nos mercados. "Está muito mais próximo dessa extrema-esquerda, até desviando muitos dos seus valores", disse a vice-presidente do PSD. Porém, Maria Luís admitiu poder ser apenas uma “posição de conveniência nas actuais circunstâncias”. Para a oradora, a democracia passa por uma diversidade partidária: “A diferenciação entre os partidos, os caminhos, o enunciar de alternativas, é fundamental em democracia. E muito saudável.”

Maria Luís Albuquerque aproveitou para elogiar a administração da CGD que será substituída na quarta-feira, dia 31, e que  continuou a funcionar, disse, mesmo sob as adversidades que lhe foram impostas. Considerou, ainda, que todo o processo relativo ao banco tem sido "uma sucessão de trapalhadas que desrespeita a instituição e desrespeita o conselho de administração que ainda está em funções". Pedro Passos Coelho havia dito uma coisa parecida: que o processo da Caixa é “espécie de manual do que não se deve fazer num Estado democrático.”

A falta de clareza do actual executivo socialista relativamente a este processo foi posta em xeque pela ex-ministra do PSD. "Quais são os custos de reestruturação? O que é que isso tem de implicação na actividade da Caixa, na implantação no território, aquilo que tem de impacto na sua componente de negócio internacional, o que é que vai acontecer também nessa frente? E, muito importante, para quê? Porque é que está a ser feito isto na CGD, o que é que a CGD vai ser capaz de fazer mais e melhor com as condições que este plano lhe dará?", questionou. 

A matéria da mudança da rota de crescimento económico ocupou uma parte significativa do debate, com Maria Luís a referir várias vezes a preocupante quebra na confiança dos investidores, em particular estrangeiros, na economia portuguesa, e a instabilidade prejudicial do mercado nacional. “Qualquer política económica tem de ser a de relançar o investimento”, disse.

Afirmando que o PSD já estava a reverter essa tendência quando se encontrava no poder, criticou o actual Governo afirmando que “o dramático é que uma reputação leva uma vida inteira a construir e destrói-se numa hora”. Para Maria Luís Albuquerque, os investidores externos vêem “um país que recupera e cai, recupera e cai”, acrescentando que se torna necessário um sério empenho, “procurando o tal consenso partidário cuja credibilidade está comprometida”, para dar conforto aos investidores estrangeiros.

A ex-ministra listou um conjunto de medidas e reformas estruturais que o PSD teria continuado a colocar em marcha, como a melhoria na eficácia da justiça, a redução na burocracia do Estado e nos entraves ao licenciamento e investimento, e a aposta na qualificação dos portugueses para dar resposta a exigências no mercado nacional e global.

A sustentabilidade da segurança social foi outra das grandes questões apresentadas à vice-presidente social-democrata, que na sua resposta fez referência à problemática da natalidade reduzida em Portugal. “A sociedade rompeu o contrato com o Estado quando decidimos parar de ter filhos”, respondeu. Os pressupostos que asseguravam o pagamento das pensões por uma força de trabalho no presente deixaram de ser garantidos no panorama actual, segundo Maria Luís Albuquerque, devido a um envelhecimento da população e a uma redução da competitividade sobre os quais tem de se agir. “É preciso criação de riqueza para que possa ser distribuída”, concluiu, acrescentando que a crise da natalidade se vive um pouco por toda a Europa, provocando uma perda gradual da sua “relevância económica mundial”.

O Estado Social, para Maria Luís Albuquerque, apenas tem respondido às pessoas em “estado de necessidade”, pelo que romper o ciclo de pobreza é “fundamental e difícil”. Apesar disso, a simples alocação de dinheiro aos problemas é “politicamente fácil” e populista, argumentou a vice-presidente do partido. 

A pergunta final colocada a Maria Luís Albuquerque disse respeito às restrições europeias a nível da dívida e défice, que a ex-ministra garante não serem um “entrave ao crescimento”. As regras são por si classificadas como “perfeitamente racionais” e “convenhamos, mais do que flexíveis, porque nunca as cumprimos”. No seu entendimento, Portugal não sofreu verdadeiras penalizações institucionais pela falta de cumprimento das imposições europeias, embora tenha sofrido a nível dos mercados.

Albuquerque afirmou que o que condiciona o futuro português são as razões que levaram à crise económica, e que vê os mesmos erros a serem cometidos no panorama político actual. “Este modelo está mesmo errado”, referiu a antiga ministra, com os indicadores económicos a proporcionarem “evidência abundante de que o modelo não funciona.” “Sabemos bem na pele quais são as consequências dessa atitude”, acrescentou ainda. A convicção dos europeístas, como relembra Maria Luís Albuquerque, é a de que as regras melhoram o futuro e que é do interesse dos portugueses “serem capazes de viver em cada ano com a riqueza que são capazes de produzir”.

Texto editado por Sónia Sapage

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