Portugal Amordaçado foi o passo decisivo para a liderança de Soares, defende Marcelo

A nova edição do livro escrito por Mário Soares, em 1972, ai ser gratuitamente distribuída pelo Expresso a partir do próximo dia 22.

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Marcelo falou no encerramento da cerimónia de lançamento pelo da reedição do livro, na Fundação Calouste Gulbenkian LUSA/MIGUEL A.LOPES

O Presidente da República considerou esta terça-feira que o lançamento do livro Portugal Amordaçado, em 1972, foi o passo decisivo no caminho da afirmação de Mário Soares como líder autónomo na esquerda e com um ideário europeísta.

Marcelo Rebelo de Sousa falava no encerramento da cerimónia de lançamento pelo semanário Expresso da reedição do livro Portugal Amordaçado, na Fundação Calouste Gulbenkian, após um discurso do proferido pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues. "O que Portugal deve a Mário Soares é incomensurável e reconhecê-lo é um imperativo nacional. Ele foi o maior e o melhor de todos" como lutador pela liberdade e construtor do regime democrático, declarou o actual chefe de Estado, numa referência às figuras políticas dos últimos 65 anos da História do país, na última frase do seu curto discurso, que foi muito aplaudido.

O Presidente da República disse estar naquela sessão na tripla qualidade de cidadão, de analista e de estudioso, e de chefe de Estado, e salientou a importância do livro Portugal Amordaçado, editado em França em 1972, para a posterior carreira política de Mário Soares e para o futuro do próprio país. "Este livro foi um passo decisivo no caminho da afirmação de Mário Soares como líder partidário autónomo determinante no futuro contexto democrático europeísta, que viria a nascer do fim do regime e o fim do Império. O livro tem um duplo significado: É o retrato de um passado e a projecção de um futuro inexorável", frisou.

No discurso anterior, Ferro Rodrigues referiu que, durante a sua juventude, defendeu uma via de resistência à ditadura diferente da de Mário Soares, que defendia a social-democracia, "corrente minoritária nas universidades portuguesas no final da década de 60 e início da de 70".

"Hoje, lendo o Portugal Amordaçado, verifica-se que entre todos os protagonistas da intervenção política de Mário Soares nos últimos 50 anos, Mário Soares foi o mais coerente, o mais consequente e, mais importante, o mais vitorioso", declarou o presidente da Assembleia da República.

Ferro Rodrigues terminou a sua intervenção com uma promessa: "Bater-nos-emos para que o nosso país não volte a ser amordaçado, porque somos uma democracia com vários poderes e nenhum pode agir sem controlo e sem crítica", disse.

O deputado socialista e filho do antigo Presidente da República, João Soares, defendeu também que o livro constitui uma marca histórica da resistência à ditadura e que a sua reedição "dá vida" ao pensamento do seu pai.

"Este livro é uma das marcas mais singulares do século XX em Portugal, já que se constitui como uma história da resistência à ditadura", declarou João Soares, numa intervenção em que elogiou o papel do presidente do grupo Impresa e fundador do PPD/PSD, Francisco Pinto Balsemão.

"Esta reedição do livro vai dar vida ao pensamento do meu pai. Esta é uma das mais importantes e significativas homenagens que se podem prestar ao meu pai, que queria reeditá-lo", declarou o antigo presidente da câmara de Lisboa.

Numa nota de humor, João Soares agradeceu a iniciativa do semanário Expresso: "Depois das edições biográficas de Hitler e Estaline, fizeram muitíssimo bem em lançar o Portugal Amordaçado", referiu, provocando risos na plateia.

Antes, a sua irmã, Isabel Soares referiu que a primeira edição do livro tem a primeira edição dedicada à sua mãe, Maria de Jesus Barroso, e contou uma pequena história quando, em 1972, numa época de censura ao Portugal Amordaçado, com Mário Soares exilado em Paris, teve de alugar a casa de família em Nafarros (Sintra), a uma jovem família inglesa.

"Depois de entregar as chaves da casa, numa missão discreta, em que não queria ser identificada, a senhora inglesa fez-me um pedido: Não se importa de me arranjar um exemplar do livro do seu pai", disse - uma história que provocou risos na plateia.

Nas primeiras filas da plateia, na Fundação Calouste Gulbenkian, estavam ainda o presidente do PS, Carlos César, o dirigente histórico socialista e ex-candidato presidencial Manuel Alegre, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, os dirigentes socialistas José Manuel dos Santos e Jorge Lacão, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques, e o presidente do Conselho Económico de Social, Correia de Campos.

Já Francisco Pinto Balsemão referiu que conheceu Mário Soares em 1969, quando o antigo Presidente da República regressou do exílio em São Tomé e Príncipe, durante um almoço que foi combinado pelo jornalista, fundador do PS e antigo grão mestre do Grande Oriente Lusitano Raúl Rego. "Nasceu logo aí uma amizade entre ambos. Depois, a PIDE forjou uma carta em nome de Mário Soares a insultar-me, tentando semear a discórdia entre nós. Mas, com isso, a PIDE só consolidou uma amizade, que veio a ser longa", declarou o antigo-primeiro-ministro.

Na primeira intervenção da sessão, presidida pelo antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva, classificou Mário Soares como "a principal figura da democracia portuguesa", numa intervenção em que também prestou homenagem a Maria de Jesus Barroso.

A nova edição do Portugal Amordaçado, que foi coordenada pelo jornalista Henrique Monteiro, vai ser gratuitamente distribuída pelo Expresso a partir do próximo dia 22, ao longo de sete semanas.

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