Marcelo não deixa para depois o que pode fazer num mandato

Presidente da República visitou esta terça-feira as ilhas Selvagens e voltou a defender uma maior aposta do país no mar.

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Do marco de correio da Grande Selvagem Marcelo enviou oito postais Carlos Lopes

Meio-dia e vinte e oito. Marcelo aterra de helicóptero no planalto das Selvagens. Mata a curiosidade. Marca território, como o próprio havia dito menos de 24 horas antes. Está deslumbrado. Passo apressado, conduz a comitiva pelos trilhos secos daquela que é a reserva mais antiga do país. Pára aqui e acolá. Ouve as explicações do vice-presidente do Instituto de Conservação da Natureza da Madeira. Vê cagarras, claro. Alguma osga, talvez. Desce a encosta satisfeito.

Mas a visita, a quarta de um chefe de Estado português àquele subarquipélago madeirense, não se esgota nos estados de alma presidenciais. Lá em baixo, junto ao mar, onde se ergue solitária a casa dos vigilantes que estão em permanência na Selvagens, fala-se da importância científica daquelas ilhas, de projectos militares ligados às biomoléculas, da proposta portuguesa para a extensão da plataforma continental e de um presidente que não quer deixar para um segundo mandato o que pode fazer já no primeiro.

“Tudo o que tiver de fazer vou fazer em cinco anos”, responde Marcelo Rebelo de Sousa, ao ser questionado sobre a “pressa” em visitar as Selvagens. Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva foram lá, sim, mas só no segundo mandato. Marcelo desvaloriza. Os presidentes, diz, podem ter “estilos” diferentes, mas existe uma “continuidade” do Estado.

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Alguns dos antecessores, continua depois de ter assinado o livro de honra das ilhas, deslocaram-se às Selvagens em condições mais difíceis, em termos de infra-estruturas. “Eles, sim, foram pioneiros”, sublinha. Marcelo também. Quer trilhar o próprio caminho. Por isso, repete perante a insistência dos jornalistas que “não está à espera de um segundo mandato” para fazer o que quer fazer. “Tenho as mãos livres. O meu compromisso é por cinco anos”, garante.

Agora já não se fala de Belém, mas sim de mar. Essa “riqueza” que esteve presente em toda esta terceira visita oficial de Marcelo Rebelo de Sousa à Madeira, desde que foi eleito em Fevereiro. Essa riqueza que está na base da proposta nacional de extensão da plataforma continental e na origem dos programas científicos em desenvolvimento na Madeira.

Um tema, nota Marcelo, que não é novo na narrativa de Belém. O antecessor, Cavaco Silva, dedicou-lhe todo um mandato. “Aquilo que se está a fazer hoje é resultado do que foi sendo feito anteriormente”, lembrou o chefe de Estado. É verdade, continua, que Cavaco Silva procurou mobilizar o país para os recursos marítimos, mas, frisa, é preciso também “fazer justiça” a Mário Soares, que quis trazer para Portugal a sede de uma organização mundial ligada ao mar, e também a Jorge Sampaio.

E o Governo, senhor Presidente? O que pensa o Governo sobre o mar?, querem saber os jornalistas. “Está a começar a perceber a importância”, afirma, exemplificando com o “acento tónico” que tem sido dado ao mar em vários ministérios.

Este olhar para o mar um pouco tardio é explicado por Marcelo com as contingências da história recente nacional. “No princípio da nossa democracia havia muitas coisas que não eram prioritárias, mas chegámos até aqui”, disse, depois de elogiar o “pequeno milagre” que civis, polícias e militares fizeram num “tempo recorde” para apetrechar aquelas ilhas com mais meios.

Em cerca de um mês foi instalado um novo radar, colocado um gerador auxiliar e construídas várias estruturas de apoio. Agora, a Selvagem Grande tem um posto de Polícia Marítima, uma extensão da Capitania do Porto do Funchal.

Foi também o posto de correio local que mereceu a atenção do Presidente. Dali, do ponto mais a sul do país, Marcelo enviou oito postais – para o neto, para os presidentes de câmara e de junta dos outros três pontos cardeais de Portugal; e um último a convidar o primeiro-ministro a ir visitar as Selvagens. Aquando da sua visita, em 2013, Cavaco também enviou um postal à mulher, que havia ficado em Lisboa.

Marcelo partiu como chegou, a bordo do helicóptero da Força Aérea. Regressou a Lisboa, após três dias de visita à Madeira, em que a recuperação pós-incêndios, primeiro, e o mar, depois, marcaram a agenda da comitiva. Passou pelas ilhas Desertas – foi o primeiro Presidente da República a fazê-lo – e terminou nas Selvagens, onde, apesar do convite do presidente do governo regional, Miguel Albuquerque, resistiu a mergulhar no mar sobre o qual tanto se falou.

 

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