“Marcelo mais genuíno, Soares mais racional”

Eduardo Barroso, sobrinho do fundador do PS e amigo de infância de “Celinho”, anota as diferenças pessoais entre os presidentes.

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Marcelo foi visitar Soares a casa após tomar posse, em Março de 2016 DR

Numa recente viagem presidencial, Marcelo Rebelo de Sousa parou no restaurante O Manjar do Marquês com o seu staff para jantar. Disse ao dono do restaurante de Pombal que era um jantar de trabalho e que a Presidência pagava, mas não havia álcool. Depois pediu uma garrafa de Vale Meão e pagou com o seu cartão de crédito pessoal. O dono do Manjar quis oferecer-lhe o vinho, mas Marcelo recusou.

O episódio, contado por Eduardo Barroso, é revelador da forma como “Celinho” se apresenta sério na relação com o cargo, quase beato. O amigo de infância do chefe de Estado e sobrinho de Mário Soares vê aqui uma diferença entre os dois presidentes. “Não estou a ver o meu tio ir jantar àquele restaurante nem a recusar uma garrafa de vinho”, diz, em tom de brincadeira.

A história ilustra a grande diferença entre os dois quanto aos prazeres da vida: Soares “tinha mais prazeres – mais comer, mais beber, fumar o seu charuto, a admiração pelas mulheres, viajar”. Já Marcelo “consegue ter prazer com meio copo de vinho, um bom bacalhau, um queijo da serra”. E ser a “estrela das festas, a contar histórias e pôr tudo a rir”.

De formas diferentes, ambos sempre tiveram muito gosto pela vida, afirma o cirurgião, identificando “enormes semelhanças” de estilo na forma de lidar com o povo. Mas também aí com diferenças: “Marcelo mais genuíno, mais emotivo; o tio Mário mais político, mais racional”.

As diferenças a nível pessoal continuam nas relações pessoais, sublinha Barroso: “Marcelo mais um homem de família, de Igreja. Soares agnóstico e a família era quanto baste, quando precisasse. O meu tio mais irado, mais dado a fúrias”. E a sestas, mesmo em público, enquanto Marcelo dorme pouco, “sempre foi assim”.

No jogo das diferenças, Eduardo Barroso anota também a “grande hesitação” de Marcelo em avançar para Belém, que lhe foi confessada numa longa conversa quatro meses antes de anunciar a candidatura. “O meu tio sabia sempre o que queria, desde que saiu de primeiro-ministro que queria ser Presidente”, afirma o médico. Que, por seu lado, desde os 11 anos apostava que Marcelo havia de ser presidente do Conselho, ou da República. “Quando se conhece uma pessoa nos primeiros 11 anos de vida, conhece-se tudo”.

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