Marcelo diz que o “velho e ortodoxo” PCP se “renovou”

Em entrevista à Monocle, o Presidente fala sobre a falta de espaço político para o populismo em Portugal e aceita críticas da imprensa como parte do processo democrático.

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Rui Gaudencio

Na edição comemorativa dos dez anos da Monocle, Marcelo Rebelo de Sousa é apresentado aos leitores da revista como um Presidente que espera na fila juntamente com o resto das pessoas para comprar um pastel de Belém, esquivando-se às normas de segurança e ao protocolo. Na entrevista, o Presidente considera que não há muito populismo em Portugal devido à existência de partidos muito fortes.

Dá como exemplos o Partido Comunista – que se “renovou” e conseguiu atrair jovens para um partido “velho e ortodoxo” – e o Bloco de Esquerda, que diz ser um “novo partido composto maioritariamente por um público jovem com ideias radicais” que ocupa o espaço que poderia ser ocupado pelo populismo de extrema-esquerda. Marcelo considera que a situação é similar na direita, ao existirem dois partidos de espírito aberto em que se torna difícil que haja lugar para radicalismos.

“O chefe de Estado é o símbolo de unidade e age como uma ponte entre os vários partidos e classes sociais”, diz o Presidente, considerando que a única maneira de evitar o populismo é resolver os problemas das pessoas e manter uma ligação directa com elas.

Cristopher Lord, o jornalista que entrevistou o Presidente, afirma que Marcelo Rebelo de Sousa utiliza uma ofensiva de charme para mudar a forma como os portugueses se relacionam com o chefe de Estado, depois de dez anos de um Presidente “pouco popular com uma imagem reservada”. O jornalista admite que a sua tentativa de conquistar os portugueses tem resultado até ao momento, numa população desejosa de políticos mais cordiais.

“Somos muito abertos comparados com uma Europa menos aberta do que costumava ser”, refere Marcelo Rebelo de Sousa. Para o Presidente, Portugal é e sempre foi “uma plataforma entre culturas, civilizações e mares”, sendo que os portugueses são bons a aprender novas línguas e adaptam-se facilmente a novos climas e sociedades. Diz que há uma ligação entre Portugal e as suas antigas colónias, numa relação “difícil de explicar”, composta por religião, futebol, vinho e literatura.

Quando questionado sobre a importância de uma imprensa livre, Marcelo Rebelo de Sousa – que também já foi jornalista – considera que é difícil haver jornalismo de qualidade quando não existe financiamento. Garante que respeitará os órgãos de comunicação social até ao final do seu mandato, mesmo que isso signifique que seja criticado. “Isto é a democracia: não podes aceitar só quando te é favorável e deixar de aceitar quando passa a ser desfavorável”, afirma.

O Presidente diz que há quem o critique por ser demasiado próximo da população, o que pode retirar a autoridade na altura de tomar decisões. Marcelo Rebelo de Sousa discorda – desde que se seja sensato e se conheça as regras. “Não é suficiente ter-se poder formal: é preciso ter o apoio das pessoas”, conclui.

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