Cadernos eleitorais no PS-Coimbra voltam a motivar polémica

Candidato à distrital suspendeu candidatura, queixando-se de irregularidades como a presença nos cadernos eleitorais dos militantes expulsos na sequência das fraudes detectadas nas eleições anteriores.

Foto
Candidato António Manuel Arnaut pediu a intervenção dos órgãos nacionais no processo eleitoral da distrital de Coimbra Enric Vives-Rubio

Em nome da transparência, da regeneração e do prestígio do PS de Coimbra, António Manuel Arnaut, candidato à liderança da distrital coimbrã, desafia os órgãos jurisdicionais do partido a adiar as eleições internas (marcadas para 21 de Maio) e a iniciar um “processo limpo”, alegando não estar disponível para “pactuar com simulacros de eleições”.

E porque entende que o “processo [eleitoral] está viciado”, António Manuel Arnaut decidiu suspender esta quinta-feira a candidatura à distrital, ficando à espera de que “os órgãos nacionais do partido” se pronunciem. É que, segundo o advogado, os cadernos eleitorais de Coimbra — que já fizeram correr muita tinta por causa das inscrições fraudulentas em massa de militantes nas anteriores eleições, que acabaram por ser suspensas, denunciadas e investigadas pelo Ministério Público — contêm irregularidades. Ao PÚBLICO, garante que nos cadernos eleitorais que vão ser usados nas eleições constam os nomes de alguns militantes que foram expulsos do PS, no âmbito da referida investigação do MP, e que há nomes de pessoas que pagaram as quotas em tempo devido que não constam dos cadernos.

Na corrida à distrital do PS está também o actual líder, o deputado Pedro Coimbra, que António Manuel Arnaut acusa “de não ter apresentado a candidatura para estas eleições”. Ao PÚBLICO, Pedro Coimbra disse que a apresentou, mas não soube precisar o dia.

A suspensão da candidatura de Arnaut foi discutida esta quinta-feira com um grupo de pessoas que o desafiaram a candidatar-se, mas o advogado deixa claro que “só vai a votos se considerar estarem reunidas as condições de igualdade, de oportunidade e de legitimidade”. “O processo eleitoral para as eleições federativas de Coimbra encontra-se viciado, não garantindo as minhas condições de legalidade e transparência, tratando de forma desigual as candidaturas existentes”, lê-se num comunicado que a candidatura endereçou ontem à Comissão Nacional de Jurisdição do PS, de quem espera agora uma resposta. “Esta decisão não é só jurisdicional”, declara ao PÚBLICO, em jeito de desafio, sem fazer mais considerações

“Pela minha parte, e porque a minha consciência me obriga, não poderei pactuar ou dar legitimidade a um acto que considero indigno. Por tal razão, suspendo imediatamente a minha candidatura não só à presidência da federação como também à apresentação de listas ao seu congresso”, afirma, endossando a “última palavra para os órgãos nacionais do partido”.

O prazo para apresentação das listas de delegados ao congresso termina às 24h desta sexta-feira. “As listas da minha candidatura para o congresso distrital [28 de Maio] e para o congresso nacional [3, 4, e 5 de Junho] estão prontas, mas não vou entregá-las”, afirma.

O militante socialista número 7723 adianta que a decisão de suspender a candidatura começou a ganhar força à medida que foi crescendo o silêncio da jurisdição distrital de Coimbra relativamente ao pedido de impugnação da Comissão Organizadora do Congresso. “Apresentei-me a candidato a presidente da federação de Coimbra do PS exactamente para combater o statu quo reinante, unir o partido e reabilitá-lo na sua imagem e dignidade, duramente afectadas com os recentes acontecimentos”, declara. E garante que, no decorrer da campanha, foi recebendo as mensagens passadas “pelos militantes e dirigentes distritais quanto à sua saturação no que respeita ao ambiente do PS, tendo igualmente constatado que se não encontravam reunidas as condições mínimas para umas eleições democráticas, transparentes e isentas, onde os militantes socialistas pudesses exercer em liberdade e consciência o seu voto”.

“Expus tais factos aos órgãos federativos e nacionais do PS, não tendo obtido, ainda, qualquer resposta. Não sou de desistir das empresas em que me abalanço”, mas reitera que não avançará sem garantias de transparência.

O filho daquele que é considerado “o pai do Serviço Nacional de Saúde”, António Arnaut, explica que apresentou a sua candidatura “sob protesto, tendo, de seguida, impugnado a Comissão Organizadora do Congresso pela circunstância de não ter qualquer legitimidade por não ter sido eleita pelo órgão próprio”.

Sugerir correcção
Comentar