Liberdade. Sempre.

Portugal é hoje um país livre – tão livre que nem percebemos o bem inestimável que essa Liberdade representa.

a quinta-feira é lançada em Lisboa uma obra fundamental. O Dicionário da História de Portugal dirigido por Joel Serrão nos anos 60 do século XX e continuado no final dos anos 90, sob direcção de António Barreto e Maria Filomena Mónica, incidindo então sobre o período do Estado Novo (1928-1976), é continuado agora com coordenação de António Reis, Maria Inácia Rezola e Paula Borges Santos, abordando o período entre o 25 de Abril de 1974 e as primeiras eleições para a Presidência da República em 28 de Junho de 1976. Todos dados à estampa pela Livraria Figueirinhas, num sinal de continuidade editorial notável.

O Dicionário de Joel Serrão é uma obra estruturante da modernização da historiografia portuguesa e uma ferramenta académica de referência. Mas também obra de referência para gerações de cidadãos que por mero interesse pessoal, escolar ou profissional precisam de perceber o país e a sua história ou momentos dela. É-o com os seis volumes de Joel Serrão. É-o com os dois de António Barreto e Maria Filomena Mónica. É-o com os anunciados oito volumes de António Reis, Maria Inácia Rezola e Paula Borges Santos, pelo menos do que já me foi dado perceber pelos primeiros quatro a que tive acesso. Mais uma vez, tendo a capacidade de juntar investigadores de escolas e de doutrinas historiográficas diversas e de gerações múltiplas.

Significando um salto de maturidade intelectual e democrática da historiografia e, logo, do país, esta obra apresenta uma abordagem de síntese, sistematizada e global, sobre um período recente da história de Portugal, sobre o qual muitos de nós temos memórias e juízos de valor pessoais, o que torna a tarefa ainda mais significativa.

Quando se aproxima o 43.º aniversário do 25 de Abril, folhear o Dicionário sobre o período revolucionário e ler algumas entradas torna cristalino o contraste entre o Portugal da ditadura e a sociedade e o Estado democrático que temos. E é de facto quântico o salto entre dois mundos. São dois universos quase, o Portugal que a revolução de 1974 libertou e o país em que hoje vivemos. A conclusão mais imediata e evidente é a dimensão da Liberdade. Como de um país fechado, atrofiado, asfixiado, em menos de meio século, Portugal é hoje um país livre — tão livre que nem percebemos o bem inestimável que essa Liberdade representa.

É indesmentível que ao longo das mais de quatro décadas percorridas o salto do desenvolvimento é oceânico. Vivemos num país diferente. Os dados estatísticos estão aí para o provar, em índices de desenvolvimento que vão da economia à sociedade ou à cultura e que todos podem consultar à distância de alguns cliques nos seus computadores, por exemplo, através da Pordata. Mas a mudança radical do país pode ser vista através de imagens fotográficas, documentários, jornais, livros. E nas memórias e nos relatos dos que ainda nasceram e viveram num Portugal pequenino, poucochinho, bafiento, quase medieval em muitíssimos aspectos.

É verdade que Portugal não é um paraíso e que tem problemas profundos, de que é exemplo o ter estado à beira da bancarrota em 2011 e ter sido salvo por um empréstimo obtido em troca da aceitação da intervenção externa dirigida pela Comissão Europeia. É também uma evidência que o mundo mudou de forma radical, fruto da revolução comunicacional potenciada pela Internet e que Portugal beneficiou disso.

Sobre o caminho percorrido é certo que há perspectivas diversas de avaliação. Há quem, numa perspectiva mais à direita, considere que o progresso e o desenvolvimento foram travados pelo peso do Estado. Assim como há quem, numa perspectiva mais à esquerda, defenda que foi a cedência à lógica de mercado que trouxe as dificuldades financeiras e de crescimento económico.

Mas mesmo essa diferença de opinião sobre o presente existe porque existe Liberdade. É a Liberdade o valor superior e insubstituível que o 25 de Abril trouxe e que deve ser celebrado e defendido. Sempre.

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