Juncker é um game changer para Costa

Costa terá de decidir ao longo do próximo ano como posicionar o PS, o Governo – e o país – no debate mais decisivo que tem pela frente. E com isso pode virar o tabuleiro da política.

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Reuters/YVES HERMAN

Deixe-me recuperar o que propôs esta semana Jean-Claude Juncker para o futuro da UE: moeda única para todos, Schengen obrigatório, orçamento e ministro das Finanças comum, mais comércio livre com outras zonas do mundo, uma unidade de coordenação das secretas e uma defesa europeia integrada na NATO. Imagine que tudo isto avança. 

Imagine também que o chamado “sexto cenário”, lançado pelo presidente da Comissão Europeia, entra em vigor na data proposta: Março de 2019 (quando o Reino Unido sair do clube europeu). Aí estaremos na recta final da legislatura em Portugal. António Costa já não precisa do PCP e BE para aprovar orçamentos, estaremos a meses da campanha das legislativas.

E agora a dúvida: sabendo nós o que PCP e BE pensam desta proposta de Juncker, sabendo nós da convicção europeísta de Costa, sabendo nós que a política europeia é o grande obstáculo a um verdadeiro entendimento à esquerda, e sabendo nós ainda que a política europeia é o alfa e ómega de todas as políticas de um governo nacional, como votará o primeiro-ministro no Conselho Europeu onde isto se decide?

É por isso que a proposta de Juncker pode ser um game changer na política nacional. Sem que isso prejudique o cumprimento da legislatura, sem ter de fazer absolutamente nada que provoque uma crise política, António Costa terá de decidir ao longo do próximo ano como posicionar o PS, o Governo — e Portugal — no debate mais decisivo que tem pela frente. 

Costa, que já vai pedindo o apoio do PSD para o plano de investimentos que resultar dos fundos comunitários pós-2020, sabe que a Europa é o campo onde mais facilmente se pode entender à direita. E que é onde mais facilmente pode posicionar o PS ao centro, se quiser tentar uma maioria absoluta para governar à vontade depois de 2019. Mas, claro, António Costa também sabe que há riscos numa ruptura com a esquerda. E que o plano de Juncker pode, simplesmente, acabar em nada — deixando a Europa na mesma (o que também não é auspicioso para Portugal).

Talvez pensar a dois anos seja demasiadamente ambicioso, nos tempos incertos que vivemos. Mas, pelo sim pelo não, anote estas duas datas e mantenha-se atento: hoje mesmo, Costa vai fazer um discurso de abertura do ano lectivo no Colégio da Europa, em Bruges, dizendo que caminho quer para a UE; e, no final de Outubro, Juncker é o convidado de Marcelo — o maior dos europeístas — para o próximo conselho de Estado. Talvez depois disto, a política portuguesa volte a ter alguma imprevisibilidade.

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