José Pedro Aguiar-Branco: "Está na altura de o PSD virar para o futuro"

Ex-ministro da Defesa do Governo de Passos Coelho em entrevista ao jornal i diz que é preciso mudar discurso, mas não discutir a liderança. E defende que que "este é o Orçamento da sobrevivência política de António Costa”.

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Aguiar-Branco entre militares da Força Aérea na base do Montijo em 2014, quando era ministro da Defesa Nuno Ferreira Santos

A coincidência das duas entrevistas – a do líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e a de José Pedro Aguiar-Branco, o homem que com ele disputou a liderança do partido em 2010 – terem saído no mesmo dia na imprensa nacional, a primeira no PÚBLICO, a segunda no jornal i, não passará despercebida, sobretudo dentro do próprio partido. Ambos olham para o Orçamento do Estado de 2017 para falar, por exemplo, do aumento dos impostos e de como, na sua opinião, não cria condições para um crescimento sustentável do país.

Para o advogado e antigo ministro da Justiça (2004-2005, com Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro) e da Defesa, o Orçamento do próximo ano é um reflexo do “falhanço do modelo apresentado pelo PS no famoso programa para a década”, carta de intenções em que os socialistas diziam ser possível “ter níveis de crescimento do dobro do que está a acontecer com a reposição salarial de forma imediata”, algo que a realidade hoje desmente. “Mais do que ser um Orçamento de esquerda, como disse [o ministro das Finanças] Mário Centeno, este é o Orçamento da sobrevivência política de António Costa.”

Com a meta do défice em vista, este Governo escolheu aumentar os impostos para equilibrar as contas públicas, repondo rendimentos por um lado, mas aumentando os impostos indirectos pelo outro, acusa o advogado e político de 59 anos. Resultado? Os portugueses continuam a ficar mais pobres, argumenta.

Aguiar-Branco não alinha no discurso de outros membros do seu partido quando dizem que a chamada “geringonça” é frágil: “Nunca tive a ideia dessa fragilidade porque salta á vista que há uma convergência muito clara do ponto de vista até ideológico entre o actual PS e os comunistas do BE e do PCP.” Nesta solidez, que conduz, por exemplo, ao aumento das pensões mais baixas, que são as não-contributivas, torna-se “óbvio” que há uma esquerdização do PS.

“Às vezes diz-se que Costa é muito hábil. Eu acho que ele é muito habilidoso”, afirmou o social-democrata que vai concorrer à Assembleia Municipal de Guimarães, cidade há já décadas dirigida pelos socialistas, referindo-se ao facto de o primeiro-ministro dizer com frequência que é social-democrata: “Ele não é social-democrata. Nesta geringonça ele é muito mais um socialista marxista, usando o socialismo que Mário Soares tinha metido na gaveta. É uma pele de cordeiro que tem por baixo o lobo marxista.”

Numa entrevista em que insiste várias vezes no facto de ter sido o PSD a ganhar as eleições de Outubro de 2015 e em que mostra a sua preocupação com o rumo que António Costa está a dar ao país, um rumo que está muito longe de conduzir a um crescimento, muito menos um crescimento sustentado, José Pedro Aguiar-Branco insiste que Passos Coelho já mostrou que tem razão naquilo que afirma. “Acho que neste momento é chegada a hora de mostrarmos que o futuro passa pelo modelo que apresentámos [no anterior governo e no último programa eleitoral] e que esse é aquele que pode constituir uma solução benéfica para o país.” Dito de outra maneira: agora que já esteve um ano a olhar para o passado, o que “é correcto”, “faz parte de uma estratégia”, “está na altura de o PSD virar para o futuro”.

E porque a acção do chefe do partido tem sido a correcta, Aguiar-Branco garante que não faz sentido discutir a liderança no PSD antes de 2018 , ano do próximo congresso. Fazê-lo conduziria, aliás, à ideia de que o problema do país está em Pedro Passos Coelho e não onde realmente está – no governo de António Costa, diz o socil-democrata. E quando os jornalistas do i lhe perguntam o que o levaria voltar a disputar a liderança do partido, Aguiar-Branco diz, peremptório: “Não faz sentido colocar essa questão. O que posso garantir é uma coisa: eu nunca serei o António Costa do PSD", disse numa referência à forma como o actual primeiro-ministro chegou à liderança do PS.

Já para o final da entrevista, ultrapassadas as perguntas mais dirigidas à actualidade, o advogado que já esteve à frente da bancada parlamentar do PSD falou ainda da sua entrada para a juventude do partido em 1974, da importância que a ideologia tem ainda hoje no discurso político e de Francisco Sá Carneiro, que continua a ser a sua referência na chefia social-democrata. Cavaco Silva, diz, foi um líder carismático, mas não teve a mesma “dimensão de doutrinador”. 

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