Jorge Palma reinterpreta Grândola: “O rumo da locomotiva está nas nossas mãos”

Só e ao piano. Jorge Palma apela à mobilização como sabe melhor e junta-se a músicos como Sérgio Godinho ou Luís Varatojo na manifestação deste sábado.

O que faz falta é “dignidade, coragem, inteligência e solidariedade de facto”. Na véspera da manifestação nacional convocada pelo movimento Que se Lixe a Troika, Jorge Palma sentou-se ao piano para reinterpretar Grândola, Vila Morena e exortar à mobilização para este sábado: “Isto está só a começar, o rumo da locomotiva está nas nossas mãos.”

Jorge Palma publicou nesta sexta-feira, no Facebook, um vídeo consigo ao piano a tocar e a cantar Grândola, Vila Morena. Desde que a 15 de Março foi cantado no Parlamento e interrompeu uma intervenção do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, o tema de José Afonso sido ouvido por muitos membros do Governo em eventos públicos.

A adesão popular à canção como forma de protesto, ao longo das duas últimas semanas, reflectiu-se de imediato no vídeo, que em cerca de seis horas contabilizou mais de 650 partilhas feitas directamente a partir da página do músico no Facebook.

Palma tinha revelado que iria participar na manifestação convocada para Braga (à noite, sobe ao palco do Theatro Circo), num texto publicado no blogue do movimento Que se Lixe a Troika, na quarta-feira. O autor de Portugal, Portugal escreveu dois parágrafos que recuperou quase integralmente para acompanhar a sua versão de Grândola, Vila Morena.

“É bom centrarmo-nos e, sobretudo, citando o nosso maestro Victorino de Almeida, não deixarmos que Portugal se torne numa espécie de cão abandonado que lambe as mãos do primeiro que lhe der qualquer coisa para comer”, começa por dizer. “Merecemos ser muito mais que isso, haja dignidade, coragem, inteligência e solidariedade de facto. Isto está só a começar, o rumo da locomotiva está nas nossas mãos. Boa viagem!”

Músicos na rua
Jorge Palma é um dos músicos que declararam publicamente o apoio ao Que se Lixe a Troika. Sérgio Godinho, que recorda os tempos de Os Sobreviventes (1971) no texto de adesão ao protesto, é outro. “Passados todos estes anos, sabemos como o país está em maré intencionalmente esvaziada e sangrada, e assim estará nos tempos mais próximos, aconteça o que acontecer. Mas não interiorizemos o medo escuro nem o conformismo pardo”, escreve. “O solo que pisamos é livre, e desde há muito terreno libertado. Defendamo-lo.”

Os primeiros a declararem o seu apoio no blogue do movimento foram Luís Varatojo (A Naifa) e António Pinho Vargas. “Nunca vi nada assim. Em dois anos, Passos e o seu gang arrasaram uma boa parte do que demorou décadas a construir. Perante isto, ninguém pode ficar indiferente”, afirma o primeiro. O segundo fala numa “crise-pretexto” que “aumenta as desigualdades, a pobreza, a dificuldade de viver com a mínima decência e dignidade”.

“Nestes tempos, como noutros, a nossa voz tem de ser ouvida”, escreve por sua vez Zé Pedro (Xuto e Pontapés), na mesma página. “Podemos pensar que não serve para nada, mas serve. Sou da opinião que eles estremecem de cada vez que saímos à rua, e eles não conseguem controlar ou atribuir a uma força política a reunião de tantas pessoas descontentes”. Rita Redshoes complementa: “O que me ilumina é saber que somos muitos.”
 
 

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