Jerónimo puxou Costa para as críticas à Europa mas este fugiu

António Costa quer manter uma “visão construtiva com as instituições europeias”.

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Jerónimo de Sousa quis pôr Costa a criticar a Europa Nuno Ferreira Santos

O líder do PCP bem lançou o isco, mas o primeiro-ministro preferiu responder um pouco ao lado. No debate quinzenal, Jerónimo de Sousa quis levar António Costa a dizer que há uma ingerência “inaceitável”, “desestabilizadora e sistemática” das instituições europeias na política portuguesa, porém, o chefe do Governo disse querer ter e manter uma “visão construtiva com as instituições europeias”.

Recordando que em Abril o presidente do Banco Central Europeu (BCE) sugeriu a revisão das leis eleitorais e da Constituição e criticou o aumento do salário mínimo nacional, e que um dos membros executivos da mesma instituição esteve em Lisboa e questionou a validade das reformas estruturais e o regresso às 35 horas, Jerónimo de Sousa interpelou directamente António Costa. “Não acha que é inaceitável esta ingerência desestabilizadora sistemática? O primeiro-ministro ou este Governo delegaram no BCE alguma responsabilidade e obrigação que é do Governo português e das instituições europeias?”, questionou. E vaticinou: “Chegou o tempo de dizer que se devem é concentrar-se nas suas tarefas e funções e respeitar a nossa soberania.”

António Costa não desarmou: “Nós temos, queremos ter, teremos e manteremos uma visão construtiva com as instituições europeias. Sabemos qual o quadro regulamentar dos tratados – e aí divergimos da posição do PCP. Mas há uma fronteira muito clara: uma coisa é o respeito dos tratados, outra é admitir que haja uma intromissão política além dos tratados e em nome de pura opção ideológica.” E continuou: “Considero chocante que quem aplaudiu durante quatro anos a política seguida pelo anterior Governo e andou a exibi-lo por toda a Europa como o modelo do aluno exemplar (…) venha agora dizer que afinal não foram tão empenhados como deviam ter sido. Essa duplicidade é chocante e politicamente inaceitável.”

Antes, Jerónimo de Sousa criticou PSD e CDS por fazerem balanços críticos dos seis meses de actuação do Governo socialista, “esquecendo, sonegando e branqueando as responsabilidades dos últimos quatro anos”. “Deviam pedir desculpas, fizeram centenas de milhares de portugueses comerem o pão que o diabo amassou no desemprego, no corte dos salários, aumento da carga fiscal, ataque aos serviços públicos, subserviência à União Europeia, mas vêm aqui armar-se em moralistas a fazer juízos críticos”, acrescentou o líder comunista.

Jerónimo de Sousa também se referiu à situação no porto de Lisboa –- não para fazer perguntas a António Costa mas para criticar a direita, em especial o PSD e Pedro Passos Coelho, por nunca usar a palavra “trabalhadores”. “Os trabalhadores estão a fazer esta greve – independentemente de discutirmos se esta é a forma acertada ou desacertada. Mas eu gostaria de vos ver no lugar deles, em que se propõe a precariedade absoluta, o rebaixamento dos salários, em que se procura condenar aqueles trabalhadores sem futuro e sem direitos. O que fariam?” António Costa pegou na deixa para remeter o caso dos estivadores para a reunião entre a ministra, operadores e sindicatos.  

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