Jerónimo de Sousa não percebe “autocontentamento” de Mário Centeno

Líder comunista lembra a “sangria” dos oito mil milhões de euros anuais de juros para criticar recusa do Governo em renegociar a dívida.

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O secretário-geral do PCP está este fim-de-semana nos distritos de Vila Real, Bragança e Guarda para apresentar os candidatos autárquicos da CDU. LUSA/Pedro Sarmento Costa

O secretário-geral do PCP disse este sábado não perceber o "autocontentamento" do ministro das Finanças na questão da dívida do país, considerando que sua renegociação é uma "questão fundamental".

Jerónimo de Sousa, que falava durante o almoço de apresentação dos candidatos autárquicos ao distrito de Vila Real, referiu que a resposta plena aos "problemas continua muito condicionada pelo limitado alcance das opções do Governo minoritário do PS que, nas questões mais estruturantes e fundamentais, continua a pautar-se pelas grandes orientações da política de direita".

"Por exemplo, vir afirmar, como o senhor ministro das Finanças afirmou, que a dívida é sustentável, fugindo à questão de sabermos que temos uma das maiores dívidas do mundo e um serviço da dívida que constitui uma autêntica sangria desatada, já que pagamos oito mil milhões de euros só em juros", salientou Jerónimo de Sousa.

O líder comunista exortou os militantes e simpatizantes a imaginar o que se poderia "fazer com oito mil milhões de euros caso se renegociasse a dívida e o próprio serviço da dívida". Por isso, acrescentou: "Não percebemos este autocontentamento do ministro das Finanças porque a verdade é que a questão da renegociação da dívida é uma questão fundamental que deve empenhar o próprio país."

O secretário-geral do PCP salientou que "há ainda muito a fazer" em Portugal. "Não, não podemos exultar pelo que foi conseguido, porque estamos ainda longe de repor condições de vida perdidas nestes últimos anos, ou porque neste último trimestre crescemos 2,8%", frisou.

Defendeu que "é na ruptura com as opções da política de direita e na adopção de uma política determinada pela libertação do país da submissão ao euro, de renegociação de uma dívida que é insustentável e de ruptura com os interesses do capital monopolista, que residirão as condições para que o ritmo de crescimento que o país precisa não tenha um carácter conjuntural e se projecte de forma sustentável ao longo dos próximos tempos e com criação de emprego de qualidade".

Jerónimo de Sousa falou ainda sobre o Código do Trabalho e a legislação laboral da administração pública. "A questão dos direitos dos trabalhadores é, muitas vezes, uma linha de fronteira entre a esquerda e a direita e, se um partido que se afirma de esquerda se põe contra os trabalhadores, impedindo a negociação da contratação colectiva e promovendo a caducidade dos contratos, não dando tratamento mais favorável ao trabalhador, então isto não é um partido com uma política de esquerda - é um partido com uma política de direita que, nesta matéria, tem de considerar outra posição", frisou.

Na visita ao interior que este fim-de-semana o leva aos distritos de Vila Real, Bragança e Guarda, Jerónimo de Sousa fez ainda questão de defender uma "efectiva e sustentada descentralização". "Uma descentralização é inseparável da instituição das regiões administrativas e não apenas de simples reformulações das actuais estruturas desconcentradas da administração central, as comissões de coordenação e desenvolvimento regional, como a que apresenta o PS", reforçou.

O secretário-geral do PCP afirmou ainda que as próximas eleições autárquicas, a 1 de Outubro, constituem uma batalha política de grande importância, pelo que "representam no plano local, mas também pelo que podem contribuir para dar força à luta travada nesta nova fase da vida política nacional".

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