Jerónimo exige "toda a verdade, independentemente das consequências" sobre os vistos gold

Líder do PCP declara que o caso envolve "uma indesmentível responsabilidade política do Governo".

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Nuno Ferreira Santos

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, exigiu este domingo que seja apurada "toda a verdade, independentemente das consequências", sobre os vistos gold, acusando o Governo de ter uma "indesmentível responsabilidade política" nesse processo."Não exigimos julgamentos e condenações apressadas, mas exigimos clarificação e apuramento de toda a verdade, independentemente das suas consequências", disse.

Na intervenção que proferiu no encerramento da 8.ª Assembleia da Organização Regional de Beja do PCP, em Castro Verde, Jerónimo deSousa insistiu que esta situação "exige o apuramento das responsabilidades criminais".

Mas, "mais do que isto", sublinhou, o caso envolve "uma indesmentível responsabilidade política do Governo, à qual [o Executivo do PSD/CDS-PP] não se pode furtar, muito menos quando são divulgadas conexões dessa rede com membros do Governo".

O líder do PCP aludia à investigação sobre a atribuição de vistos gold, no âmbito da qual a Polícia Judiciária deteve, na quinta-feira, 11 pessoas suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influência e peculato.

Nesta investigação, denomianda Operação Labirinto, foi detido o director nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Jarmela Palos, a secretária-geral do Ministério da Justiça (MJ), Maria Antónia Anes, e o presidente do Instituto dos Registos e Notariado, António Figueiredo, de acordo com fontes do SEF e do Ministério da Justiça.

No sábado, o jornal Público noticiou que a empresa de consultoria e gestão de empresas "JMF - Projects & Business", de Lisboa, é abrangida na operação e tem como sócios Marques Mendes, o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, Jaime Gomes e Ana Luísa Figueiredo, filha do presidente do Instituto dos Registos e Notariado.

Durante o seu habitual período de comentário ao sábado no Jornal da Noite, na SIC, o ex-presidente do PSD, Luís Marques Mendes, afirmou nunca ter exercido "funções de gerência" na empresa JMF, referindo que esta não tem actividade desde 2011.

Para o secretário-geral do PCP, o Governo, "não só perdeu toda a legitimidade", como "acaba de perder toda a credibilidade, se alguma lhe restava, com o processo dos vistos gold e detenção de altas figuras do Estado enredadas numa teia de corrupção e de pagamento de luvas milionárias"."Bem diz o nosso povo, cada tiro, cada melro", ironizou o secretário-geral comunista, considerando que estes vistos "são uma imagem de marca deste Governo".

Trata-se de vistos "propagandeados pelo vice-primeiro ministro [Paulo Portas] como de grande importância para o país, mas a realidade mostra serem uma porta aberta para o branqueamento de capitais, através da aquisição de património de luxo", continuou.

Para o actual Executivo PSD/CDS-PP, de acordo com o líder do PCP, "não há outra saída que não seja a demissão e a convocação de eleições antecipadas", mas tal só não acontece devido ao Presidente da República, Cavaco Silva.

O executivo "apenas sobrevive", criticou, "porque o Presidente da República fez a opção de deixar o país caminhar para o abismo, em nome da salvação de um Governo da sua opção partidária e da perpetuação da sua política de desastre e ruína nacional".

No âmbito da Operação Labirinto, já foram ouvidos cinco dos 11 detidos, pelo juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal: o diretor do SEF, um funcionário do IRN e três cidadãos chineses, estando a decorrer a audição de um funcionário do IRN, segundo próximas do processo.

O diretor do SEF, que abriu a sequência de inquirições, no sábado, foi acusado de dois crimes de corrupção passiva, disse à agência Lusa o seu advogado.

As medidas de coação só deverão ser decididas quando terminada a audição dos 11 detidos.

 

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