“Higiene democrática” afasta PSD de qualquer apoio à geringonça

Passos Coelho abriu o XVI Congresso Regional do PSD-Madeira com avisos para Lisboa. Não contem com os sociais-democratas sempre que os “partidos radicais” falharem com o Governo.

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Passos Coelho participou no Congresso do PSD/Madeira LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

É, também, por uma questão de “higiene democrática” que o PSD recusa integrar a “geringonça”, e apoiar assim o PS na redução da Taxa Social Única (TSU) para as empresas. No Funchal, onde marcou presença na abertura do XVI Congresso do PSD-Madeira, que decorre este fim-de-semana, Pedro Passos Coelho sublinhou que o PS não ganhou as eleições, e por isso a legitimidade que tem para governar é apenas parlamentar.

“O PSD não faz parte da geringonça que governa o país e, portanto, sempre que essa geringonça não se entender, que façam um esforço maior de entendimento, e possam olhar para PSD sem ver o parceiro que lhes falta cada vez que as coisas funcionam mal”, disse o líder social-democrata, acrescentando que o partido não vai votar contra apenas por votar.

Mas, advertiu, não esperam que o PSD vote a favor sempre que o governo e os “partidos mais radicais” se desentenderem. “Basta de habilidades balofas”, disse, reforçando que não é para isso, para ser parceiro do PS quando os outros partidos falham, que o PSD serve.

Passos Coelho recordou os apoios anteriores do PSD ao PS, como quando integrou o governo em 1983 ou viabilizou Orçamentos do Estado, mas argumenta que essas convergências aconteceram em circunstâncias bem diferentes. “O PS nessa altura tinha ganho as eleições, tinha essa legitimidade eleitoral, mas hoje não tem”, afirmou, insistindo que cabe à maioria que apoio o Governo entender-se para que o Governo possa governar. “Seria uma perversidade se não fosse assim”, até porque a solução encontrada por António Costa foi junto de partidos que se uniram para o PSD não governar.

“Eles [PCP e BE] só são radicais quando não dá jeito ao Governo?”, questionou, lembrando os elogios de Costa que louvou a importância de trazer aqueles dois partidos para a governabilidade. “Nessa altura não eram radicais, davam estabilidade e coesão ao Governo”.

E, a quem ver nesta recusa uma espécie de vingança social-democrata, Passos Coelho devolve as críticas. “Nunca vi na histórica económica do país, um governo tão revanchista como aquele que nós temos hoje em Portugal”, acusou, dizendo que o “cerne do programa” do actual executivo é no “essencial” reverter as reformas que foram feitas. “Devíamos era acrescentar reformas para o futuro que apurassem as expectativas dos investidores, que trouxessem mais confiança”, defendeu, comparando o crescimento do país com a Espanha e a Irlanda que também executaram nos últimos anos programas de reforma importantes.

“Quando comparamos o nosso desempenho com esses países, temos que concluir que algo de errado se passa com as nossas políticas, porque esses países crescem muito mais do que Portugal”, argumentou, admitindo que mesmo que em 2017 o país cresce mais do que o previsto, o que acredita que irá acontecer, será sempre um crescimento inferior a Espanha e à Irlanda. “Não se conhece uma ideia mobilizadora que possa atrair investimentos, que possa ganhar confiança e trazer futuro para os portugueses”, lamentou.

Críticas que se estenderam à forma como Lisboa tem olhado para as regiões autónomas, nomeadamente para a Madeira. “É, para mim, inexplicável que um governo que gosta de andar sempre com o ‘Estado Social’ na boca, ainda não tenha canalizado os meios adequados para a construção do novo hospital do Funchal”, disse, considerando um equipamento indispensável e uma reivindicação justa e legitima do arquipélago.

Passos, lembrando que o hospital foi um compromisso eleitoral do partido em 2015, defendeu também um novo modelo de financiamento para as regiões autónomas. “É um tópico que merece uma reflexão conjunta entre o Estado e as duas regiões”, afirmou, arrancando aplausos.

O líder nacional do PSDfoi de resto bastante aplaudido pela sala cheia que acolheu a reunião magna dos sociais-democratas madeirenses. Miguel Albuquerque, que venceu sem oposição em Dezembro as eleições internas com 98,2% dos votos, será reconduzido e é o subscritor da única moção de estratégia global intitulada Proximidade, Confiança, Desenvolvimento.

Na intervenção que encerrou a sessão de abertura, Albuquerque lembrou as três vitórias do partido nos últimos três combates eleitorais – regionais, legislativas e presidenciais -, mostrando-se confiante que o PSD-Madeira irá recuperar a maioria das câmaras e juntas de freguesia nas eleições autárquicas deste ano.

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