Guterres deve formalizar hoje pedido de demissão

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António Guterres disse que apresentava a demissão para evitar um pântano político João Relvas/Lusa

O primeiro-ministro António Guterres deve encontrar-se hoje com o Presidente da República para formalizar o pedido de demissão do cargo, anunciado na sequência da pesada derrota rosa nas autárquicas. Depois de terem perdido os maiores bastiões para o PSD, Guterres anunciou esta madrugada a demissão do cargo.

A decisão pretendeu evitar a necessidade de apresentação de uma moção de confiança no Parlamento, que surgiria como inevitável na sequência do resultado eleitoral.Belém já anunciou, no entanto, que só decidirá sobre a eventual dissolução do Parlamento depois da formalização do pedido de exoneração de Guterres.
Caso dissolva o Parlamento, o Presidente da República tem que ouvir os partidos da oposição e o Conselho de Estado, podendo depois convocar eleições antecipadas no prazo de 55 dias. No caso de isso acontecer, o final de Fevereiro ou princípio do mês de Março poderão ser, assim, datas prováveis para a realização de eleições legislativas antecipadas.
Jorge Sampaio pode, no entanto, optar por reconduzir António Guterres ou convidar outra figura a formar Governo, neste caso sem recurso à dissolução da Assembleia da República.
"Entre a espada e a parede, escolherei a espada", disse uma vez o primeiro-ministro quando se discutia a perspectiva de o orçamento de Estado para 2001 ser rejeitado no parlamento, ficando o Governo obrigado a governar com um documento desvirtuado. Esta madrugada, confrontado com o desaire eleitoral e com a possibilidade de ser obrigado a levar uma moção de confiança à Assembleia da República, o primeiro-ministro voltou a escolher "a espada", diz a Lusa.
"O PSD é, inquestionavelmente, o partido vencedor destas eleições autárquicas", declarou o primeiro-ministro, António Guterres, momentos antes de anunciar que iria pedir a demissão ao Presidente da República. Guterres escusou-se a adiantar se avançará com a recandidatura, mas, confrontado por jornalistas com este cenário, declarou: "não tenho quaisquer ambições políticas".

Demissão de Guterres era inevitável

Na proclamação da vitória do PSD, que fez mesmo antes de saber da vitória de Pedro Santana Lopes em Lisboa, Durão Barroso, presidente do partido, já havia apelado ao Chefe de Estado e ao primeiro-ministro para uma reflexão sobre as implicações nacionais dos resultados das autárquicas.Depois de conhecida a intenção do primeiro-ministro, Durão Barroso escusou-se a falar em eleições antecipadas, lembrando que compete ao presidente da República decidir, mas salientou que "o país sabe hoje que há um alternativa" [para a governação] e que "essa alternativa é o PSD".
Para os líderes do PCP, Carlos Carvalhas, e do CDS/PP, Paulo Portas, a demissão de António Guterres era inevitável.
Paulo Portas considerou ainda "injusto" o resultado do CDS/PP em Lisboa, mas remeteu para os próximos dias uma decisão sobre o seu futuro à frente do partido.
O PSD, sozinho ou à frente de coligações com o CDS/PP ou com o PPM, ganhou a maioria das câmaras do país e tirou ao PS as presidências das mais importantes autarquias, incluindo as de Lisboa e do Porto.
Contra todas as sondagens e expectativas, o social-democrata Rui Rio, à frente de uma coligação PSD/CDS, arrebatou a Câmara ao carismático socialista Fernando Gomes, naquela que foi a grande surpresa das autárquicas propriamente ditas.
Além do Porto e de Lisboa, o PSD arrecadou ao PS as autarquias capitais de distrito de Faro, Coimbra e Portalegre, mantendo as que já liderava.
No distrito de Lisboa, também as Câmaras de Cascais e Sintra se pintaram de laranja.
O PSD é, assim, desde domingo o partido maioritário nas câmaras capitais de distrito, dominando 11 dos 20 executivos camarários, seguido pelo PS com sete e pela coligação PCP/PEV, com duas.
Os sociais-democratas, coligados com o PPM, roubaram ainda a câmara de Lisboa à coligação PS/PCP/PEV. Coligados com o CDS-PP, ganharam também aos socialistas a câmara do Porto e, em Coimbra, associados ao CDS-PP e ao PPM. Os sociais-democratas retiraram ainda ao PS as câmaras de Faro e de Portalegre.
Ao todo, o PSD conquistou cinco novas capitais de distrito, e não perdeu nestas eleições qualquer das que já liderava: Bragança, Leiria, Vila Real, Viseu, Ponta Delgada e Funchal.
O PS foi o grande perdedor ao nível das capitais de distrito, vendo fugir-lhe seis cidades capitais de distrito - Lisboa (PSD/PPM), Porto (PSD/CDS-PP), Coimbra (PSD/CDS-PP/PPM), Faro (PSD), Portalegre (PSD) e Setúbal (PCP/PEV). Os socialistas perderam seis e ganharam apenas uma: a câmara de Évora à coligação PCP/PEV.
Os socialistas conseguiram manter as câmaras de Viana do Castelo, Aveiro, Braga, Castelo Branco, Guarda e Santarém e mantêm, até agora, o maior número de votos em termos absolutos.
A CDU, coligação liderada pelo PCP, viu fugir-lhe Évora - câmara que dominava desde 1976 - mas, em contrapartida, conseguiu recuperar aos socialistas a câmara de Setúbal, perdida para o PS nas autárquicas de 1985 e manteve Beja.

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