Grandes apesares da História

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A História da Humanidade é feita de alguns grandes nomes, de muitas pessoas anónimas e de alguns homenzinhos que, apesar disso, se intrometem a mandar no mundo sem que se perceba bem como é que isso aconteceu. De vez em quando estes últimos dizem umas coisas estrambólicas apesar de.

Eis uma breve súmula de casos exemplares, alguns ainda por confirmar sobretudo não.

Índice Onomástico: José Mariano Gago (16 de Maio de 1948-17 de Abril de 2015): cientista especialista em física de partículas e político que fez a ciência avançar 20 anos em Portugal e que, por morte prematura, não pode continuar a desenvolver o país.

Pedro Passos Coelho (n.1964-?): especialista tecnofórmico pago por fora e trânsfuga da Segurança Social que teve ciência para fazer retroceder 20 anos os índices de desenvolvimento de Portugal e ainda tem até Outubro para teimar na sua obra.

Ligação fúnebre entre a primeira personalidade e o outro: “Apesar de ter servido em governos do Partido Socialista, hoje lembramos sobretudo não as diferenças que tivemos em matéria de política mas a personalidade rica de um homem de serviço público que deu um contributo inestimável ao progresso da ciência em Portugal e o reconhecimento público pela carreira que fez e os serviços que prestou a Portugal.”

Mais casos giros de outras épocas?

Caso I: Giordano Bruno (reino de Nápoles,1548-Roma, 1600): teólogo, filósofo e frade dominicano executado por “erros teológicos” e por defender o heliocentrismo de Copérnico.

Roberto Belarmino (1542-1621): jesuíta, cardeal, inquisidor-chefe que o papa Pio XI proclamou santo e “doutor da igreja” em 1930.

Ligação entre os dois: “Apesar de Giordano Bruno ser um herético que pôs em causa a virgindade de Maria, imaginou outros mundos habitados e defendeu a ideia absurda de que é a Terra que gira à volta do Sol, hoje lembramos sobretudo não o visionário que defendeu até ao fim as suas ideias, mas o espectáculo de luz que deu na fogueira de Campo dei Fiori, e reconhecemos publicamente que é pena que o espertalhão do Galileu Galilei tenha abjurado à minha frente das suas heresias porque também daria um santo e pio churrasco.”

Caso II: Leonardo da Vinci (1452-1512): figura maior do Renascimento, cientista, botânico, anatomista, matemático, engenheiro, inventor, precursor da balística e da aviação, arquitecto, escultor, poeta, músico, ginasta e pintor, entre outras, da obra-prima Gioconda.

Giovanni Bragolin (1911-1981): pintor italiano de rua para turistas e autor do famoso O Menino da Lágrima.

Ligação entre o mestre e o outro: “Apesar de ter servido, no campo da arte, da ciência e da cultura, o oposto do que eu pratico, hoje lembro sobretudo não as diferenças de gosto que tivemos mas o facto de o meu menino choramingas como cachorro faminto estar, aposto, mais vezes reproduzido em cartazes e pendurado nas paredes das casas do que a Mona Lisa. Se isso não é reconhecimento público em Portugal e noutros países civilizados, é o quê?”

Caso III: Charles Darwin (1809-1882): cientista e naturalista inglês que formulou consistemente a revolucionária teoria da evolução das espécies, através da selecção natural e sexual. A sua ciência é hoje aceite por qualquer um que não seja estúpido, mas é contestada por criaturas (os criacionistas) que fazem museus em que os dinossauros extintos há 65 milhões de anos têm no dorso uma sela para que os homens aparecidos há menos de 100 mil anos os possam montar como cavalos.

Samuel Wilberforce (1805-1873): homem extremamente religioso e determinado, bispo de Oxford, que ficou famoso pela polémica pública com Thomas Huxley, defensor de Charles Darwin, a quem perguntou se preferia ser descendente de macaco pela parte do pai ou pela parte da mãe, ao que Huxley respondeu que preferia ser macaco do que bispo ou, noutra versão, que antes ser macaco do que “um homem educado que usa a sua cultura e eloquência ao serviço do preconceito e da mentira”.

O que une Darwin a Wilberforce: “Apesar de ter usado a viagem do navio Beagle para destruir a existência histórica da arca de Noé (numa grande descortesia entre marinheiros) e de ter aplicado o financiamento oferecido pelo Governo de Sua Majestade para provar que a Rainha Vitória descende de uma espécie de símio, tenho de admitir a possibilidade de que Charles Darwin poderá ter direito a um funeral de Estado muito maior do que o meu, e que no futuro será respeitado mundialmente enquanto eu não vou passar de uma simples espécie humana de anedota. A minha saúde não me deverá permitir assistir a esse dia. Não terei a felicidade, ou infelicidade, de falecer no mesmo dia de Darwin.”

Tantos apesares, Pedrinho, tantas felicidades, José Pedro. Não estais sós, apesar de não sobr

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