Esquerda chumba auditoria à Caixa pedida pelo PSD

PS sinaliza que pode aprovar auditoria forense pedida pelo BE, porque reforça a do Governo. Mas esquerda não deixa passar auditoria externa a pedido do Parlamento, proposta pelo PSD.

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Hugo Soares criticou os partidos de esquerda Rui Gaudêncio

PS, BE e PCP chumbaram esta sexta-feira o requerimento do PSD para a realização de uma auditoria externa e independente, a pedido do Parlamento, à Caixa Geral de Depósitos (CGD). A decisão dos partidos foi assumida na reunião da comissão de inquérito que, pela primeira vez, votou este pedido dos sociais-democratas.

A discussão girou em torno de uma questão formal e outra política. Ou seja, se é legítimo ser o Parlamento pedir uma auditoria desta natureza e em segundo lugar se é redundante, uma vez que existe um pedido de auditoria do Governo e outro do BE, que pede ao executivo uma auditoria forense.

O PS justificou a decisão de não deixar passar a auditoria pedida pelo PSD com o facto de haver já um pedido de auditoria independente feito pelo Governo e também por haver um requerimento do Bloco de Esquerda que quer uma auditoria forense. "No nosso entender, quer a decisão do Governo, quer o projecto do resolução, são instrumentos bastantes. Parece-nos que não faz sentido, não acompanhamos este requerimento. São dois instrumentos capazes e bastantes para que esta comissão tenha informação suficiente", defendeu o deputado do PS João Paulo Correia.

O mesmo deputado disse mais tarde que "poderá ser aprovado" o projecto de resolução do BE a propor uma auditoria forense, dando assim a indicação que os socialistas se preparam para votar ao lado do BE. Neste ponto, o PCP não deverá acompanhar o PS e o BE, uma vez que defendem que não deve ser o Parlamento a dar início a estas auditorias. 

A mesma posição foi assumida pelo PCP. O deputado Miguel Tiago recusou o apoio a esta iniciativa do PSD tanto do "ponto de vista formal como político", porque "é mais ou menos a mesma coisa que contratar técnicos privados para investigarem coisas que devíamos ser nós a investigar". Já o BE, pela voz do deputado Moisés Ferreira, considerou que com esta auditoria o que se estava a fazer era "esvaziar" a comissão de inquérito.

Perante a posição da esquerda, o deputado do PSD, Hugo Soares, criticou os partidos por, disse, ser claro que "a questão nunca foi formal, mas política". O PS diz que "é extemporâneo, até porque o Governo já pediu à Caixa que promovesse uma auditoria". "É tudo menos externa e tudo menos menos independente. O PS quer que seja uma auditoria caseirinha. O PSD quer que seja uma auditoria externa e independente", defendeu.

Mais tarde, o mesmo deputado acrescentou uma novidade a esta discussão, dizendo que para o PSD nem precisa de ser uma auditoria feita por uma auditor externo, mas que esta poderia ser feita pelo Tribunal de Contas. Hugo Soares diz que em casos passados foi aprovado em outras comissões de inquérito, como a do BPN, que estas auditorias bancárias deveriam ser pedidas sempre por uma entidade externa e não pela própria instituição bancária.

O CDS vota a favor tanto do pedido de auditoria do PSD como do BE. "Tudo aquilo que sirva para apurar o que se passou na CGD é muito bem-vindo, muito útil", disse o deputado João Almeida.

Nesta segunda reunião, os deputados aprovaram ainda o regulamento de funcionamento da comissão. Já os pedidos de auditoria e de documentação seguem sem ser votados e não houve nenhum partido a levantar dúvidas. Excepto, acrescentou o presidente da comissão, José Matos Correia, o facto de haver dúvidas sobre o plano de recapitalização que está a ser discutido em Bruxelas.

O presidente da comissão de inquérito informou ainda os deputados que há disponibilidade por parte do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e do presidente da Caixa, José Godinho de Matos, para estarem presentes nas audições no final do mês. Falta saber da disponibilidade de Mario Centeno, ministro das Finanças. 

Já no fim da reunião, o deputado do PSD, Hugo Soares, voltou a criticar os partidos da esquerda em declarações aos jornalistas. Disse o deputado que "aquilo que o PSD queria era uma auditoria independente e externa. Uma auditoria feita pela Caixa à própria Caixa, é uma espécie de auditoria caseirinha, interna". Já o deputado João Paulo Correia do PS acusou os sociais-democratas de estarem a levar a cabo "mais um número político para achincalhamento da comissão de inquérito". 

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