A política também tem a ver com ecossistemas, extinção das espécies e qualidade de vida

Carlos Pimenta falou na Universidade de Verão do PSD sobre pressões ambientais e necessidade de repensar as políticas públicas. Acusou os políticos e os economistas de "não estarem a fazer o seu papel".

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Carlos Pimenta acredita no consenso "medida a medida" Enric Vives Rubio

As aulas da Universidade de Verão do PSD continuam em Castelo de Vide. Esta manhã, a temática afastou-se de intrigas partidárias e da social-democracia, com Carlos Pimenta a discursar de forma mais abrangente sobre as áreas do clima, ambiente e políticas públicas.

A problemática dos constrangimentos ambientais e dos avanços tecnológicos pontuou vários momentos do debate, que durou cerca de 2h30. O antigo secretário de Estado do Ambiente afirmou que “as novas organizações da sociedade vão implicar políticas públicas que nada têm a ver com o passado”, devido à pressão que o aumento demográfico no globo tem vindo a exercer sobre a natureza. Carlos Pimenta referiu, a título de exemplo, problemáticas como a grande concentração de populações nas metrópoles, a falta de zonas verdes, de tratamento do lixo ou de água potável. “Neste momento, os engenheiros e os cientistas estão a fazer o seu papel. Quem não está são os políticos e os economistas”, acusa, explicando que é necessário “estabelecer objectivos vinculativos” para a eficiência energética e energias renováveis.

Não deixou de acentuar a urgência de acção por via de mudança de comportamentos e das políticas públicas, que não estão ainda a fazer o suficiente para lidar de forma adequada com questões de ordenação territorial e poluição desregulada. Acrescenta, referindo-se à concentração urbana em zonas litorais, que uma subida do nível dos oceanos afectaria exponencialmente o ser humano. “O que estão a ver com os refugiados é uma brincadeira” quando comparado com o que pode vir a acontecer caso não se altere o paradigma actual, afirmou o engenheiro.

O desperdício energético não foi esquecido durante o discurso, com o aviso de que existe actualmente um mau aproveitamento de recursos que passa por uma reduzida eficiência nos combustíveis, nas lâmpadas ou na indústria alimentar, que desperdiça diariamente uma quantidade incomportável de comida tanto na produção como no consumo. “Temos de pensar, para sete mil milhões de pessoas, como é que podemos arranjar mecanismos, sistemas, soluções que garantam qualidade de vida, realização pessoal e saúde” É este o desafio das políticas públicas de hoje”, assegurou Carlos Pimenta.

Todos estes factores afectam por sua vez a biodiversidade, outro dos grandes temas abordados pelo orador durante a conferência. As pressões exercidas sobre os ecossistemas levam a que a extinção de certas espécies coloque em risco todo o sistema. Apontou em específico para o caso de Portugal e Espanha: “A zona da Península Ibérica é das zonas onde, em percentagem, temos mais espécies em risco. Estamos a viver a sexta extinção maciça de espécies no planeta desde que há vida”.

Segundo o engenheiro, a via da sustentabilidade ambiental é também um factor de dimensão económica importante. “Medidas que aumentam a sustentabilidade poupam dinheiro”, explicou, exemplificando com a alteração na distribuição de água no Porto e com a introdução do metropolitano. A sua fé – palavra que não deixou de acentuar – na resolução daquilo que considera ser uma “crise sistémica” passa pelo aumento da educação das novas gerações, “aliada à difusão da informação e internacionalização”.

Além da poupança de dinheiro, com a melhoria da eficácia energética, a nível dos agregados familiares e do país, Carlos Pimenta acrescentou ainda que “a energia é uma grande fonte de alimentação dos cofres públicos”, embora Portugal esteja numa posição geográfica difícil para que possa vender energia a outros países. O social-democrata sugeriu que uma das soluções passa pela “interligação entre as tecnologias da informação e a energia”.

“Nós temos tido uma incapacidade de gerir políticas públicas que tenham em conta a modernidade que vai acontecendo”, afirmou Carlos Pimenta já perto do final do debate com os alunos.

O dia de hoje será ainda marcado por um jantar-conferência com Luís Marques Mendes, que substituirá a maestrina Joana Carneiro. A Universidade de Verão do PSD termina no próximo domingo, com o discurso de encerramento a cargo do líder do partido Pedro Passos Coelho. Texto editado por Sónia Sapage

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