Edgar quer uma “Europa outra”, laica, da coesão social e da paz

Candidato apoiado pelo PCP encheu o Pavilhão do Rio, na antiga FIL, em Lisboa. Jerónimo de Sousa falou das políticas do Governo que não foram tão longe quanto o PCP propôs, mas “são já um passo”, e atacou a “encenação” de Marcelo.

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Jerónimo destacou o perfil de “humanista” do candidato comunista Nuno Ferreira Santos
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Nuno Ferreira Santos
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No maior comício desde o início da campanha, Edgar Silva defendeu este domingo a edificação de “uma Europa outra”, a das “ideias, das culturas multiformes; a Europa laica e da laicidade do Estado, da secularização, da tolerância, da pluralidade, da busca das mais amplas liberdades, da coesão social, da solidariedade e aberta aos valores da paz”.

O candidato presidencial respondia aos que “tentam fazer crer” que o seu projecto, por ser apoiado pelo PCP, “tem qualquer reserva contra a Europa” ou pretende um Portugal isolado, fora de organizações como a UE ou a NATO. Edgar Silva disse que o novo Chefe de Estado deve fazer cumprir a Constituição nos compromissos internacionais, mas orientar a sua acção nos fóruns internacionais para “a promoção de uma política baseada na cooperação entre os Estados e que promova o desarmamento”.

Perante cerca de 6000 pessoas, segundo dados da organização - boa parte delas trazidas por algumas dezenas de autocarros -, Edgar Silva fez um discurso de improviso de meia hora em que revisitou as ideias que tem defendido ao longo da campanha. Falou dos eixos fundamentais da sua candidatura, defendeu a necessidade de haver em Belém um Presidente com “um coração de carne e não com um coração de pedra, amante da liberdade e defensor da democracia” e apontou baterias a Marcelo Rebelo de Sousa.

O candidato afirmou ser preciso que na Presidência se passe a falar a língua portuguesa, numa alusão ao controlo europeu sobre as políticas nacionais, ao “vergar da espinha perante os interesses estrangeiros, como se a sra. Merkel pudesse decidir tudo”. O candidato defendeu também ser preciso combater a pobreza pelas atacando as causas em vez de apenas “lançar lágrimas de crocodilo” perante as injustiças sociais, e acabar com a “canga” e com o “saque” em que se transformou o serviço da dívida. “O que faz falta em Belém é um Presidente da República que assuma plenamente os interesses de Portugal e dos portugueses, em defesa de um país soberano, que seja incapaz de se vergar a interesses estranhos e que afirme o direito à auto-determinação de Portugal”, salientou Edgar Silva. “Nós não estamos condenados a ter uma vida azeda como nos querem impor.”

Demorou-se mais de cinco minutos a fazer um apelo dramático ao voto agora que se entra na derradeira semana de campanha e que as sondagens apontam para uma decisão à primeira volta. “Está ao nosso alcance derrotar a direita e Marcelo Rebelo de Sousa”, gritou Edgar Silva enquanto se levantava um coro de assobios e apupos. “Não basta apupar, é preciso mobilizar para que essa derrota [de Marcelo Rebelo de Sousa e da direita] seja efectiva a 24 de Janeiro”, avisou o candidato de origem madeirense. Dizendo acreditar que “muito é possível fazer nesta última semana”, reforçou o pedido a uma “generosidade ainda maior: é preciso uma tarefa militante, de ousadia e atrevimento, de mobilização na família, no café, na fábrica, no trabalho”. “Que ninguém deixe por mão alheia aquilo que só cada um pode decidir! Que ninguém falte à chamada!”, apelou.

Jerónimo contra a “encenação” de Marcelo
Antes, foi Jerónimo de Sousa quem arrancou aplausos ao elogiar o perfil de “humanista” e “homem justo e exemplar” de Edgar, e assobios e apupos de cada vez que falava em Marcelo, a quem acusou de fazer “encenação” ao mostrar-se “de direita, do centro e até de esquerda, conforme a assistência a quem se dirige”, e de continuar o legado de Cavaco Silva ao “defender um pacto de regime para eternizar a direita no poder”. “Não vale a pena fingir: Marcelo Rebelo de Sousa é o candidato do PSD e CDS. É nele que apostam para tirar a desforra da derrota que tiveram em Outubro e continuar a sua agenda de afundamento do país.”

Jerónimo de Sousa também se demorou a falar sobre algumas medidas do Governo PS para, no fundo, tentar dar uma explicação ao seu eleitorado por apoiar um Executivo que tem reposto rendimentos e direitos mas não ao nível do que o PCP prometeu na campanha. O secretário-geral comunista lembrou que no dia das eleições legislativas foi ele que disse que o PS só não formava Governo se não quisesse, vincou que apesar de o PCP “trabalhar com o PS”, o programa de Governo é socialista e “difere em muitas matérias da política patriótica e de esquerda do PCP”.

“Algumas medidas tomadas não foram tão longe como o PCP propôs; mas conseguiram-se recuperações embora parciais e isso é já um passo”, admitiu Jerónimo de Sousa, que prometeu que o partido continuará a “respeitar a palavra dada” porque o seu “primeiro e principal compromisso de honra é com os trabalhadores e o povo” – uma indirecta a pensar no acordo político que subscreveu com o PS. Criticou ainda a “intriga” e o “comentário trafulha” usado pela oposição para minar a relação entre PCP e PS.

Manuela Cunha, dos Verdes, subira também ao palco para criticar a “arte de surfar em duas ondas” de Marcelo e a complacência de Cavaco Silva com o anterior Governo, e para elogiar a reversão de medidas da direita pelo Governo do PS com a ajuda do PCP e do PEV, como as 35 horas na função pública. 

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