Donos do Efisa admoestam deputados... em inglês

A Pivot, empresa que Miguel Relvas aguarda por autorização do Banco de Portugal para integrar, censura os deputados João Galamba e João Paulo Correia, do PS, por lançarem "insinuações".

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Miguel Relvas terá que esperar pelo menos um ano para saber se mantém a sua licenciatura DANIEL ROCHA

Numa carta dirigida aos dois deputados do PS responsáveis pelos assuntos económicos, João Galamba e João Paulo Correia, enviada com conhecimento a todos os líderes de grupos parlamentares e à presidente da Comissão de Orçamento e Finanças, Teresa Leal Coelho, a Pivot queixa-se de ser alvo de "declarações erróneas".

Ricardo Santos Silva e Aba Schubert assinam a carta, que chegou ao Parlamento português escrita em inglês. Isso já seria estranho, tendo em conta os destinatários e a formalidade devida ao Parlamento. Torna-se ainda mais estranho, quando o autor e responsável pela Pivot SGPS - a empresa que comprou por 38 milhões o Banco Efisa à Parparticipadas, que gere as empresas nacionalizadas do BPN - Ricardo Santos Silva, ser ele póprio um português, que estudou no ISEG e trabalhou no BES.

Mas nem a língua de Shakespeare torna mais amigável o tom dos dois últimos parágrafos da carta, dirigida aos deputados, a que o PÚBLICO teve acesso: "Dado o vosso estatuto de servidores públicos, confiamos que terão o cuidado de não propagar declarações que fazem insinuações perturbadoras e causam danos, como os acima referidos." Esses "danos" têm a ver com as críticas ao processo de compra do banco e, sobretudo, com a participação no negócio do ex-ministro Miguel Relvas.

Para a Pivot são "pouco exactas" as afirmações de que Relvas foi um consultor daquela empresa e é um dos seus accionistas. De facto, Relvas aguarda por uma decisão do Banco de Portugal para poder ser um dos accionistas da Pivot, que comprou o Efisa, conforme foi noticiado nos últimos dias. 

Por fim, a carta, escrita em papel timbrado da Aethel Partners, apresentada como dona da Pivot (que aqui é designada por "cliente") e também ela de Ricardo Santos Silva, explica aos deputados que pode acolher quem quiser no seu núcleo accionista: "A natureza de uma privatização requer o envolvimento de uma entidade privada, como a Pivot. Como entidade privada, a Pivot tem o direito de tomar as suas decisões comerciais, de acordo com a legislação aplicável, sem interferências políticas."

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