Declarações de Schäuble mostram que "a desconfiança se instalou", diz Passos

O discurso “pão, pão, queijo, queijo” de quem acha que Portugal está no caminho do incumprimento. Para o ex-primeiro-ministro, o “resultado não pode ser bom”.

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Pedro Passos Coelho Enric Vives-Rubio

O presidente do PSD diz que não se importa de não ser visto como um optimista. Não é. E por isso olha para a realidade com lentes cada vez mais catastrofistas: o Governo não está “a aproveitar as oportunidades”, está a maximizar “os riscos”, e por isso não é de estranhar que discursos como o do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, apareçam.

“Ao nível político, começou a desenvolver-se nos parceiros europeus a percepção de que podemos estar num caminho de incumprimento. E volta e meia aparece isso em declarações públicas de forma directa ou indirecta. O Governo tem respondido, renovando o seu compromisso de cumprir. Mas a desconfiança instalou-se”, disse Passos Coelho perante uma plateia de empresários do International Club of Portugal.

Mais tarde, clarificou: condenou as palavras do ministro alemão e pediu “comedimento” quando se fala de pedidos de resgate de um país. “Independentemente das motivações que tenham tido, sendo um ministro das Finanças da zona euro, parece-me que é uma declaração que não devia fazer. Quando estamos a falar de circunstâncias limite como são as que estão associadas a um pedido de ajuda externa tem de haver algum comedimento muito grande, ainda para mais por parte de alguém que tem responsabilidades como ele tem”, disse. Contudo, acrescentou, estas declarações aparecem e denotam “uma expectativa e desconfiança em relação ao caminho que está a ser seguido”.

No caminho que está a ser seguido, Passos Coelho só vê maus sinais. “O investimento parou”, “o crescimento não vai ser tão elevado quanto o Governo esperava”, as “reversões de medidas” não param, as exportações não crescem, a escolha pelo incentivo da procura interna é um caminho que já viu “no passado e já se sabe no que dá”. Em suma: “Não pode dar bom resultado. (...) O resultado só pode ser mau, não pode ser bom”.

Passos estava no seu estilo habitual, de quem usa expressões populares para as declarações políticas. E também estava no seu habitual estilo céptico, para não dizer pessimista: “Eu não sou de paninhos quentes. Sou pão, pão, queijo, queijo. Não gosto de dourar a pílula. (...) Isso não se pode confundir com ignorar a realidade. Porque quem ignora a realidade choca de frente com ela. E, neste meu estilo pão, pão, queijo, queijo, digo que nós hoje temos o benefício de o Governo ter uma clarificação muito grande da situação política, económica e social. De um lado, o caminho do Governo, que não me cabe evitar, e do outro lado temos uma percepção das nossas limitações e um plano”, defendeu.

No horizonte do líder do PSD está a necessidade de restabelecer a confiança, porque ela “é a base para quase tudo”. “Quando está perdida, as piores profecias tendem a realizar-se. Estamos perigosamente a aproximar-nos de essa confiança poder estar em causa e o trabalho para a reconstruir pode ser demorado”, disse.

Mas além das questões próprias, Passos Coelho lembra os “riscos” que o Governo não soube prever. “A possibilidade de um ‘Brexit’ não pode ser uma circunstância inesperada. Podia acontecer há muito tempo”, disse. E por isso defendeu a política da prevenção. Ou seja, “havia graçolas” por o Governo anterior ter uma “almofada financeira e os cofres cheios”, havia “quem achasse que estávamos a endossar aos portugueses o peso da prudência. Agora dá jeito. Espero que essa almofada financeira seja tão grande quanto tem sido afirmado”, afirmou.

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