Declaração pública de intenções

Substantivo masculino singular com vários significados. Escolhemos três: dois de um dicionário recente e o terceiro de um registo mais antigo. Assim, “manifesto” pode significar “declaração, individual ou colectiva, pela qual se torna pública uma posição, se explica a razão de um acto, se defende uma ideia” ou “escrito público em que se dá a conhecer uma declaração de intenções um programa de acção” ou ainda “escrito público pelo qual um soberano, um governo, explica as razões do seu procedimento em negócio de Estado importante”.

Preparar a Reestruturação da Dívida para Crescer Sustentadamente foi o título escolhido para o manifesto de 74 cidadãos portugueses, “personalidades da esquerda à direita”, de Francisco Louçã a António Bagão Félix, que foi conhecido na terça-feira. Começava assim: “Nenhuma estratégia de combate à crise poderá ter êxito se não conciliar a resposta à questão da dívida com a efectivação de um robusto processo de crescimento económico e de emprego num quadro de coesão e efectiva solidariedade nacional. (...) A reestruturação da dívida é condição sine qua non para o alcance desses objectivos.”

Passos Coelho falou em “irrealismo”, Maria Luís Albuquerque disse que “o tema nem se coloca” e Paulo Rangel considerou o manifesto “masoquista” (onde é que já ouvimos isto?).

Dois subscritores do documento, Sevinate Pinto e Vítor Martins, foram exonerados de consultores do Presidente da República. E aqui pode entrar a palavra “manifesto” como adjectivo, “que se vê ou percebe com clareza”. Ou seja, Cavaco Silva revelou uma “manifesta” vontade de se demarcar do “manifesto”. E entra o verbo. Sem se “manifestar”. 

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