Cristas sai em defesa da classe média como vítima das “esquerdas unidas”

Líder do CDS não falou do PSD mas recordou Adelino Amaro da Costa, fundador dos centristas, para sublinhar a marca distintiva do partido.

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Assunção Cristas durante o seu discurso neste domingo Rui Gaudêncio

Depois de já ter sido conhecido como o partido dos contribuintes ou dos reformados, o CDS-PP vira-se agora para a classe média como a que considera ser a prejudicada pela agenda das “esquerdas unidas”, ou seja, PS, BE e PCP. Ontem, em Peniche,no discurso de encerramento da Escola de Quadros do partido, Assunção Cristas preferiu falar de indicadores económicos – o crescimento abaixo do previsto ou o investimento em queda – do que em dados financeiros.

Numa intervenção que se traduziu por forte ataque à política económica e social do Governo, a líder do CDS-PP posicionou o partido como a “alternativa sensata para Portugal”, com uma marca de distinção. Não falou do PSD mas recordou Adelino Amaro da Costa, fundador do partido e ministro da Defesa na AD em 1980. “No CDS acreditamos que não precisamos de pôr tudo em causa para aliviar a austeridade, não precisamos de deixar esvair a confiança para repor rendimentos, não precisamos de afugentar investidores com uma governação que não gera confiança. Seremos, somos, a alternativa sensata para Portugal, e é isso que nos distingue desde Amaro da Costa”, afirmou Assunção Cristas já em jeito de remate do discurso. E deixou avisos para dentro do partido: “Não esperem de nós radicalismos, não esperem que ponhamos tudo em causa, não esperem que não evoluamos, não esperem que não aceitemos a mudança.”

A líder do CDS-PP deu vários exemplos de decisões do Governo de António Costa que considerou estarem a prejudicar “em particular a classe média”. A começar pelas reversões das privatizações dos transportes. “Resultado? Sindicatos satisfeitos, utentes prejudicados e quebra de confiança dos investidores traduzida numa brutal redução do investimento”, afirmou, perante uma plateia de mais de 130 jovens, mas com poucos dirigentes nacionais na primeira fila. Ausências que o partido justifica com o facto de esta iniciativa de formação de jovens não ser a rentrée do CDS tal como aconteceu em anos anteriores.

Assunção Cristas recorreu também à educação para demonstrar as falhas do modelo do Governo PS, com apoio do PCP e BE. “Para satisfazer as clientelas das esquerdas unidas, pôs-se fim aos exames em fim de ciclo e cortou-se turmas nas escolas com melhores resultados. Resultado? CGTP satisfeita, alunos e famílias prejudicados, redução da qualidade na educação”, afirmou.

Num terceiro exemplo do “desvario das esquerdas”, a líder do CDS sublinhou o “aumento” de impostos no IMI [Imposto Municipal sobre Imóveis] e nos combustíveis, acusando o Governo e os partidos à esquerda de irem “ao bolso da classe média buscar o dinheiro” quando dizem querer “tributar os ricos”. Cristas denunciou o que considerou ser um logro. “No que depender da esquerda radical, a classe média é vista como rica! Tem carro? É rico! Tem casa própria, é rico! É senhorio? É rico! A sua casa tem boa luz solar? É rico”, afirmou, gerando risos na sala. Já na campanha eleitoral das legislativas de 2015, o então líder do CDS, Paulo Portas, se dirigiu directamente à classe média para apelar ao voto e em sinal de reconhecimento de que foi o grupo social mais atingida pelas medidas de austeridade da coligação PSD/CDS então no Governo.

Economia "sem dinheiro"

A líder do CDS-PP atacou ainda os partidos mais à esquerda por se terem habituado “muito depressa ao poder”, já que “as convicções, os protestos, os hinos e os lemas foram todos metidos na gaveta”. Esse silêncio do BE e do PCP - para não “estragar a festança das esquerdas” - foi visível não só em polémicas sobre as viagens dos secretários de Estado a jogos do Europeu de futebol pagas pela Galp como também relativamente aos dados da execução orçamental até Julho, período que Cristas considera estar a deixar a “economia sem dinheiro e sem recursos para pagar a agenda da esquerda unida”.

Mais uma vez, a líder do CDS aproveitou para criticar medidas como a reposição dos cortes nos salários na função pública e a redução das 35 horas no sector. Cristas gastou boa parte do discurso a falar nas consequências da política do Governo. E apontou: “o ritmo de crescimento da dívida voltou a disparar”; “um crescimento muito abaixo do esperado”; o investimento a “cair” e o consumo a descer.

Para tentar contrariar a queda do investimento, o CDS vai propor um crédito fiscal reforçado para o investimento, “que permita reduzir a taxa efectiva de IRC para cerca de 5,5% para as empresas que fizerem investimento produtivo”. E irá avançar, também no Parlamento, com uma proposta para conceder “benefícios fiscais para quem invista em start-ups”.

Já na área da educação, Assunção Cristas reiterou a intenção de apresentar projectos que pretendem reorganizar os ciclos e tornar obrigatório o pré-escolar nos 5 anos. 

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