Cristas vê Educação capturada por agenda de esquerda e insta Governo a cumprir lei

Presidente do CDS está solidária com os colégios que pretendem avançar para a justiça e preocupada com os professores. Admite que o actual modelo possa ser revisto, mas só depois de os contratos terminarem.

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Assunção Cristas cumpriu visita de dois dias à Madeira Rui Farinha/NFactos

A líder do CDS acusou esta terça-feira o Ministério da Educação de estar “capturado” por uma “agenda de esquerda”, justificando com as recentes declarações do secretário-geral da Fenprof, que davam conta de uma avaliação trimestral ao ministério e ao ministro Tiago Brandão Rodrigues. “Quando assistimos a Mário Nogueira dizer que faz uma avaliação trimestral do ministro e do ministério, está tudo dito”, argumentou Assunção Cristas, durante uma visita ao Mercado dos Lavradores, no Funchal.

Cristas, que está na Madeira em contactos com militantes, até admite que o actual modelo de contratos com o ensino privado possa, no futuro, ser revisto, mas avisa que “neste momento” importa que o Governo cumpra a lei. “Aquilo que para nós é relevante nesta fase é garantir que a lei é cumprida e que os contratos firmados com os colégios privados e do ensino cooperativo são efectivamente cumpridos”, disse a presidente do CDS, lembrando que estão em causa 17 mil alunos e 1125 professores. Os contratos, frisou, são plurianuais, de três anos, e têm de ser cumpridos.

Assunção Cristas acrescenta que depois de terminados os contratos, o actual modelo pode ser afinado. Será preciso perceber, explica, se este é o melhor ou se haverá outro melhor, atendendo ao decréscimo da natalidade e aos recursos do Estado. “São questões que podem ser ponderadas no futuro, mas não se pode a meio de um percurso, a meio de um acordo com o ensino privado e cooperativo, querer pô-lo em causa”, defendeu, solidarizando-se com os colégios que pretendem avançar com providências cautelares para suspender a eficácia do despacho governamental que define os cortes no financiamento do Estado.

“Só posso compreender e solidarizar-me com essas escolas, aliás os nossos deputados têm estado por todos os distritos a reunir-se com as escolas”, disse, considerando esta opção dos colégios como “natural”, tendo em conta que a lei não está a ser cumprida.

Aconselhando o executivo a reflectir antes de agir, Cristas lembra que, enquanto os contratos estiverem em vigor, o Governo tem tempo para olhar para esta matéria, reflectir e eventualmente corrigir.

“O que me parece mais importante é pensar com racionalidade sobre este tema”, defendeu, acrescentando que é preciso ponderar o que faz mais sentido do ponto de vista da qualidade de ensino e também da salvaguarda das expectativas e direitos de alunos, pais e professores. “Os professores do ensino privado e cooperativo não são menos professores do que os do ensino estatal”, sublinhou, considerando uma “enorme desfaçatez” a forma “enviesada” com que o Ministério da Educação afirmou que irá contratar os professores que forem despedidos do privado

“Volto a dizer, há certamente uma questão de baixa de natalidade que vai progressivamente afectar o ensino, e será necessário reflectir onde e como é que nós queremos essa cooperação com o ensino privado e cooperativo, ou não a queremos”, continuou, distanciando-se da visão do ministério sobre esta matéria.

No dia em que se completam seis meses desde a assinatura dos acordos entre o PS e os restantes partidos que sustentam o Governo, Cristas garante que todas as dúvidas foram dissipadas. “São farinha do mesmo saco, nos momentos centrais estão unidos e isso é importante para nós todos percebermos que, de facto, temos um verdadeiro governo das esquerdas unidas”, afirmou, dizendo que esta concordância do PS, Bloco de Esquerda e PCP terá consequências no futuro.

“Quem tinha dúvidas sobre se concordavam ou não concordavam e quem achava que era possível que à segunda-feira o PCP e o Bloco de Esquerda estarem com o Governo e à terça virem criticá-lo agora percebe, e isto ficou particularmente claro no Programa de Estabilidade, que estão mesmo todos juntos: Para o bom e para o mau”, acrescentou.

Assunção Cristas assumiu que as eleições autárquicas do próximo ano estão já na agenda do CDS-PPMesmo assim, estratégias e nomes são ainda assuntos em aberto. A primeira palavra, garante a presidente centrista, será dada às estruturas concelhias do partido, já que estas eleições são matérias de cada concelho. “Ainda é cedo para falar de nomes. Temos muito bons quadros, muito bons políticos, e não será difícil encontrar soluções, afirmou, admitindo todos os cenários de candidaturas.

“Penso que não há uma única solução válida para todos os casos. O CDS governa sozinho cinco câmaras - uma das quais na Madeira [Santana] -, governa com independentes duas câmaras [Porto e Aguiar da Beira] e com o PSD está em 22 câmaras”, lembrou, ressalvando que o importante para o partido é reforçar a presença autárquica. O CDS, diz a líder centrista, quer estar próximo do dia-a-dia das pessoas, para poder influenciar positivamente o quotidiano das populações.

Na véspera, durante um jantar com militantes, que abriu a agenda da segunda visita à Madeira, desde que substituiu Paulo Portas na liderança do partido, Cristas lembrou que as eleições autárquicas são o próximo combate do partido e, como tal, o mais importante. Apelou por isso à entrada de novos militantes e de independentes, pedindo ao CDS para se abrir à sociedade civil.

Antes de regressar a Lisboa, Cristas encontrou-se com o reitor da Universidade da Madeira, visitou o miradouro do Cabo Girão, o promontório mais alto da Europa, em Câmara de Lobos, fechando a visita na IPSS Garota do Calhau.

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