Passos não partilha do optimismo de Marcelo relativamente ao défice

Líder social-democrata baixou expectativas sobre o OE e avisou o Governo para “tirar o cavalinho da chuva”, porque o “PSD não se deixará embrulhar na responsabilização orçamental”.

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Passos e Cristas, sem querer, encontraram-se no Norte Enric-Vives Rubio

O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, é menos optimista do que o Presidente da República em matéria do défice público e diz que as informações de que dispõe não lhe permitem ser “tão categórico” como Marcelo Rebelo de Sousa. Um dia depois de o Presidente da República ter dado um voto de confiança ao Governo de António Costa quanto às metas que o país tem de atingir até ao final do ano, Passos Coelho tem dúvidas que o défice se fique pelos 2,5% do PIB e disse-o esta sexta-feira, em Vila do Conde, salvaguardando, porém, que o Presidente terá dados que ele não tem.

No final da visita que realizou à Feira Agrícola do Norte - AgroSemana, em Vila do Conde, onde se cruzou com a ex-ministra da Agricultura do seu governo e líder do CDS, Assunção Cristas, Passos sublinhou que não faz “profissões de fé” sobre a matéria do défice, mas partilhou que depois de ouvir as palavras Marcelo ficou ”muito mais tranquilo”. “O Presidente da República mostrou uma convicção quanto à possibilidade de obtermos essas metas e, portanto, o Presidente terá, com certeza, alguma informação mais particular que nós não dispomos. De acordo com a informação que é pública, eu não seria tão categórico nessa afirmação”.

Apesar das divergências, Passos quis deixar uma nota de optimismo ao país nesta sua incursão pelo Norte. “Estamos todos, julgo eu, com o mesmo propósito, que é o de Portugal possa cumprir a meta a que se propôs. Isso é importante para todos os portugueses e, portanto, se o Governo no final do ano puder ter atingido as metas orçamentais, isso é bom para toda a gente, para Portugal, porque a disciplina orçamental nem é de esquerda, nem é de direita, nem é liberal, nem é conservadora”, disse.

Segundo o líder social-democrata, a disciplina orçamental devia ser importante para todos. "E depois cada um deve executar as suas políticas de acordo com as orientações que tem, mas sempre de acordo com o dinheiro que há para não onerar demasiado os portugueses com impostos e com dívidas para futuro”. acrescentou.

Relativamente ao Orçamento do Estado (OE) para o próximo ano, Passos Coelho deixou claro que o PSD não pretenderá imiscuir-se nessa matéria. "O Orçamento cabe ao Governo e à maioria que o apoia, por isso, se alguém está com a expectativa de embrulhar o PSD na responsabilização orçamental, como se costuma dizer, que tire o cavalinho da chuva", disse.

Ao ser questionado se o PSD vai apresentar propostas para o OE, Passos respondeu com alguma incomodidade, afirmando que o assunto ainda não está decidido no partido até porque, como sublinhou, ainda não há orçamento, nem proposta, portanto, "haverá tempo". "Estou convencido que o Governo não terá uma dificuldade maior em apresentar ao Parlamento uma proposta de Orçamento que esteja mais ou menos de acordo com a vontade da maioria do parlamento e da maioria que apoia o Governo. É um processo que aguardaremos, porque não passa por nós, não é connosco que o PS tem entendimento de Governo, não somos nós que temos intervenção nesse processo", sustentou ainda.

Passos Coelho visitou aquela que é considerada a maior feira agrícola a Norte acompanhado do novo presidente da distrital, Bragança Fernandes, do líder da concelhia do Porto, Miguel Seabra, de presidentes de câmara, de deputados e de outros dirigentes sociais-democratas. Depois da visita, o líder social-democrata almoçou com muitos destes dirigentes, na Póvoa de Varzim.

Cristas denuncia falta de crescimento

Na sua passagem pela mesma feira agrícola, Assunção Cristas deixou críticas ao Governo pela falta de apoio ao sector. “Este é um sector que precisa de ser apoiado, acarinhado. É assim em todos os países desenvolvidos e também tem de ser em Portugal”, disse aos microfones dos jornalistas.

Afirmando que sente uma “degradação do ambiente no sector agrícola à medida que os meses passam”, a ex-ministra declarou que existe uma “grande consternação por haver uma falta de apoio político clara [ao sector]". Embalada, apontou casos que evidenciam essa falta de apoio. “Vemos os pagamentos a deixarem de ser feitos ao fim de um mês. Já os pagamentos dos subsídios de Bruxelas, que eram feitos muitas vezes antecipadamente, estão a ser feitos com atraso”, apontou, acusando o Governo de “interromper o programa de incineração dos cadáveres animais”. “Tudo isso são custos para os agricultores e produtores de animais”.

Ao contrário do líder do PSD, Cristas contornou as perguntas dos jornalistas relativamente às metas do défice, focando-se na denúncia do “aumento de impostos do Governo – mais 2,8% de impostos arrecadados - e no pagamento de subsídios com atraso”. “A minha preocupação primeira está no crescimento económico, está no investimento, porque é daí que nasce emprego sustentável para o país. Quando nós vemos o crescimento a não acontecer, quando vemos a dívida pública a aumentar, quando vemos os pagamentos em atraso a crescerem em vários sectores, quando vemos faltar dinheiro para o investimento produtivo, nomeadamente, na agricultura, não podemos ficar, obviamente, tranquilos”, sublinhou a líder centrista.

Questionada sobre se as declarações feitas quinta-feira pelo Presidente da República não a deixaram mais tranquila em matéria de défice, Assunção Cristas respondeu: ”Em 2008, Portugal teve um défice, na altura, reputado em 2,8%. Um ano e meio depois estávamos a ser resgatados pela troika”. 

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