Costa e Marcelo prometem empenho aos emigrantes lesados do BES

Primeiro-ministro e Presidente “mergulharam” na manifestação que os esperava em Champigny, perto de Paris, onde os ânimos chegaram a exaltar-se.

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Marcelo misturou-se com os manifestantes Daniel Rocha
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Protesto dos lesados do BES Daniel Rocha
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Emigrantes portugueses em Champigny, nos arredores de Paris Daniel Rocha
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Marcelo e Costa no meio da multidão Daniel Rocha

O primeiro-ministro garantiu, este sábado, o empenho do Governo para ajudar a resolver o problema dos lesados do BES em França, a maioria dos quais não pertence aos cerca de 80% dos pequenos e médios aforradores do banco que já chegaram a acordo para reaver parte dos seus investimentos. Em Champigny, perto de Paris, onde prosseguem as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, algumas dezenas de emigrantes que ficaram sem as suas poupanças naquele banco esperavam o Presidente da República e o chefe de Governo com cartazes e palavras de ordem, a primeira das quais “justiça”.

António Costa foi o primeiro a dirigir-se a eles: “Perante o quadro de um banco que faliu, mas antes enganou milhares de portugueses, não podemos virar a cara e temos de fazer justiça à justiça que é devida”, afirmou, ainda no discurso da cerimónia oficial em que foram condecorados portugueses e franceses que se destacaram no apoio à grande comunidade lusa de Champigny.

"Não compete ao Governo nem ao Presidente da República substituírem-se à justiça, mas sei que o Presidente da República acompanha o Governo na preocupação de criar os mecanismos de diálogo, os mecanismos de negociação, os mecanismos de arbitragem que permitam a todos aqueles que foram lesados verem os seus direitos tão satisfeitos quanto possível", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa também não ignorou o tema: “O primeiro-ministro e o Presidente da República estão atentos aos novos problemas das comunidades portuguesas em França”, garantiu, referindo-se em concreto aos “problemas económicos e financeiros daqueles que apostaram em instituições portuguesas e cujas poupanças de uma vida desapreceram”.

Os manifestantes, que se mantiveram ordeiros durante a maior parte do tempo, aplaudiram e agradeceram, e até baixaram os cartazes para cantar os hinos, primeiro A Portuguesa e depois A Marselhesa. Mas mais tarde, já no final da cerimónia, Marcelo e Costa “mergulharam” na multidão onde se encontravam os manifestantes e a confusão instalou-se.

“Justiça, justiça”, “ajudem-nos, por favor”, gritavam os manifestantes aos ouvidos do Presidente e do primeiro-ministro, numa altura em que a mole humana avançava à força de empurrões, sem que a segurança conseguisse controlar. Houve mesmo um momento em que um dos lesados, mais exaltado, gritava e gesticulava tão perto do primeiro-ministro que se chegou a temer violência. Que não aconteceu.

Boicote ao envio de remessas

As palavras das duas figuras mais altas do Estado, tanto em Champigny como na véspera, em Paris – onde os lesados chegaram a falar com Costa e Marcelo, após se manifestarem em frente à embaixada portuguesa -, foram bem recebidas, mas não suficientes para evitar novos protestos.

Helena Batista, vice-presidente da Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP), afirmou ao PÚBLICO que o impasse continua, e por isso estão a distribuir, este fim-de-semana, oito mil panfletos a apelar aos emigrantes para não enviarem as suas poupanças para Portugal. Começaram este sábado, ali em Champigny, e vão apostar tudo no domingo, na festa anual da Rádio Alfa, um dos maiores eventos da comunidade portuguesa na região de Paris, que pode juntar amanhã cerca de 20 mil pessoas.

“Há três meses que as remessas estão a cair e não é por acaso”, nota Helena Batista, sublinhando que o boicote ao envio de dinheiro para Portugal é uma das mais fortes armas que os emigrantes lesados têm à sua disposição para tentar reaver as suas poupanças perdidas no BES. “Os reguladores falharam, o sistema financeiro português falhou e os emigrantes estavam mais distraídos, foram levados por pessoas incompetentes e que tinham uma grande vontade de enganar”, justifica.

Helena Batista conta que, na sexta-feira, a AMELP chegou a ser recebida informalmente pelo Presidente e pelo primeiro-ministro em plena recepção no Hotel de Ville, durante uns cinco minutos, onde lhes explicaram porque abandonaram as conversações com o representante do Governo, Diogo Lacerda Machado – “porque a entidade mais implicada, o Novo Banco, não veio” – e receberam de ambos palavras de apaziguamento mas nenhum compromisso.

“Não aceitamos a solução que nos foi apresentada” porque, explica, “as pessoas que assinaram estão a receber 4% do capital, no qual não podem mexer durante dois anos, mais 5% por ano durante seis anos e mais obrigações com maturidades a 2049 e 2051”, o que consideram inaceitável.

“Isto que estão a fazer hoje em Champigny é uma grande homenagem, mas muitas pessoas que estão aqui têm hoje as suas poupanças de uma vida confiscadas por uma entidade financeira portuguesa”, frisa Helena Batista, afirmando que estes lesados “preferem passar mais uns anos a protestar”.

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