Costa e Centeno com visões diferentes sobre a economia de 2016

O ministro das Finanças admite que a conjuntura internacional obrigue a revisões sobre este ano. O primeiro-ministro fala em “contas certas”.

Foto
Primeiro-ministro e ministro das Finanças têm perspectivas diferentes sobre as contas de 2016 Nuno Ferreira Santos

Ministro das Finanças e primeiro-ministro não acertaram o discurso sobre o que espera o Governo para a economia deste ano depois da decisão do Reino Unido de sair da União Europeia. Mário Centeno, em entrevista ao PÚBLICO, admite a possibilidade de ter de rever as contas deste ano em Outubro por causa do cenário internacional, já António Costa diz que os números para este ano “estão lançados”.

O primeiro-ministro admitiu esta quarta-feira que a conjuntura internacional pode levar a uma revisão das previsões futuras da economia. Em conferência de imprensa depois da cimeira de Bruxelas sobre o “Brexit”, António Costa falou sempre no futuro. "O cenário internacional, como o senhor ministro das Finanças já disse, poderá levar a que, em Outubro, quando apresentarmos o Orçamento para 2017, possa ser necessário fazer alguma atualização sobre evoluções futuras da economia portuguesa”.

Ou seja, para a frente e não sobre os números deste ano: os "dados [de 2016] estão lançados e, felizmente, dão contas certas", disse.

Contudo, o que o ministro das Finanças disse não foi bem o que Costa referiu um dia depois na conversa com os jornalistas. Em entrevista ao PÚBLICO, Mário Centeno falou do efeito do “Brexit” para a economia portuguesa e disse que esse impacto poderia levar a uma revisão das contas do crescimento da economia de 2016.

Além do impacto do “Brexit”, as possíveis sanções a Portugal por não ter cumprido o défice abaixo de 3% em 2015 podem também vir a ter influência nas contas públicas. Mas sobre esse assunto, António Costa disse estar preparado. "Este Governo está preparado para as piores previsões, porque todas as semanas há uma previsão de uma desgraça na semana a seguir. Já passámos seis meses e essas desgraças ou não se confirmaram ou, tendo ocorrido, foram devidamente ultrapassadas", afirmou citado pela Lusa.

Costa começa a preparar o discurso político para o caso de ter de enfrentar a aplicação de sanções pela Comissão Europeia. E sobretudo depois de no fim de semana ter visto o BE pedir um referendo sobre o mecanismo pelo qual as sanções serão aplicadas, ou seja, o Tratado Orçamental. O primeiro-ministro insiste na ideia de que a maioria que apoia o Governo está bem e recomenda-se: "Por isso, eu diria mesmo que este é um Governo que nasceu a enfrentar e resolver desgraças. É isso que estamos a fazer e que iremos continuar a fazer”.

O “desacerto”

A vice-presidente do PSD Maria Luís Albuquerque considerou “lamentável” o “desacerto” entre o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, lembrando que “já não é a primeira vez” que este desencontro acontece. Em declarações aos jornalistas, no Parlamento, a ex-ministra das Finanças acusou Mário Centeno de ter uma “estratégia desculpabilizante” para admitir um menor crescimento da economia portuguesa neste ano. “O calendário político deste ano era conhecido há já muito tempo. Sabia-se que alguns destes riscos se podiam materializar e, quando confrontado com estas perguntas, o ministro das Finanças sistematicamente repetia que tinha margens [orçamentais]”, afirmou.

Maria Luís Albuquerque apelou à “responsabilidade do Governo” para “corrigir o que tem de ser corrigido”, de forma a que “não haja consequências para os portugueses”. Com S. R./Lusa

Sugerir correcção
Ler 6 comentários