Coerência e humildade – a lição de Nóvoa

Quando um candidato derrotado dá uma entrevista, o que é que ele diz? A resposta não é óbvia, se falarmos de Sampaio da Nóvoa. E nesta crise da TSU quem ganhou?

Um bom exemplo, vindo de um candidato derrotado.Um mau exemplo, vindo de um banco público. E uma minicrise chamada “TSU” que trouxe dois vencedores claros. As notas da semana são estas.

Sampaio da Nóvoa, ex-candidato a Presidente (15)

Na semana de aniversário da vitória de Marcelo, o ex-candidato presidencial deu uma lição de coerência e humildade que é rara na democracia. Apareceu ao lado do Presidente eleito num almoço promovido pelo próprio, reconheceu que Marcelo teve o peso político que ele não teria — nomeadamente ao ajudar o Governo em Bruxelas. E acrescentou uma única nota crítica sobre o desempenho do chefe de Estado: se ele, Sampaio da Nóvoa, achava que Marcelo iria beneficiar a direita, entende agora que acabou a prejudicar o líder da oposição. A essa lição, exmo. ex-reitor, tiro o chapéu. Era bom que alguns políticos seguissem o exemplo.

Eduardo Cabrita, ministro adjunto (14)

Diz o Governo da Grécia que Portugal está a ser injusto, ao oferecer-se para acolher especificamente refugiados yazidis, a minoria religiosa que habita no Curdistão e que tem sido sistematicamente perseguida e violentada, provocando uma desumana procura de uma vida normal. À crítica grega respondeu Eduardo Cabrita que os yazidis pediram para vir para Portugal. E que o nosso país tem todo o gosto em acolher estes refugiados. O que se espera é que, este fim-de-semana, António Costa aproveite a vinda de Tsipras a Lisboa (para a cimeira de líderes do Sul da Europa) e lhe explique que o que a Grécia devia desejar era que outros países fossem como o nosso: decentes, recebendo quem precisa de ajuda. E muitos não o fazem.

Luís Filipe Vieira, presidente do SLB (14)

A nota não é pelos resultados desportivos do Benfica, antes por aquilo a que os benfiquistas não estavam habituados: a venda do jovem avançado Gonçalo Guedes ao Paris Saint-German, esta semana, mostra que o clube da Luz já entrou no campeonato que tinha um líder destacado no futebol nacional: o Sporting, no campeonato da formação de estrelas mundiais. Verdade: o Sporting é hoje o clube que mais jovens da academia tem a jogar no 11 titular da 1.ª Liga. Mas, contas feitas a este ano, são mesmo os cofres de Luís Filipe Vieira os que mais ganharam com duas vendas apenas: Gonçalo Guedes e Renato Sanches. São 65 milhões de euros, decisivos para um clube que precisa muito de pôr as contas em dia. E sem prejudicar os resultados da equipa principal. Mérito, claro, também para Rui Vitória.

Jerónimo de Sousa, líder do PCP (14)

Há anos que o secretário-geral comunista vem propondo que se ponha fim ao pagamento especial por conta, uma antecipação de imposto que tem criado dificuldades a muitas pequenas empresas do país. Há alguns anos também vem defendendo que os aumentos do salário mínimo não devem ser compensados com descidas da TSU (temporárias, ano após ano). Esta semana, a nova estratégia do PSD abriu-lhe uma auto-estrada. A TSU caiu, o PEC baixou. Mas os ganhos de Jerónimo não são conjunturais: se já sabíamos que a nova arquitectura parlamentar lhe dava o poder de devolver rendimentos e direitos ao seu eleitorado, o afastamento táctico do PSD dá-lhe o poder de evitar qualquer medida que apoie os empresários ou flexibilize a economia. Para ele, como para Catarina Martins, soa a música para os ouvidos.

Pedro Nuno Santos, secretário de Estado (10)

O Governo contou com o incerto — e viu o PSD a virar o tabuleiro, com estratégia de cerco político. A partir daqui, já percebemos, os socialistas só poderão contar mesmo com os parceiros à esquerda para aprovar medidas. A lista dos problemas potenciais não porá em causa o Governo, mas vai condicionar a governação em matérias que possam ajudar a estimular a competitividade da economia (a que PCP e Bloco são naturalmente avessos). Para Pedro Nuno Santos, sobrará mais trabalho — porque lhe que cabe dirimir divergências entre as esquerdas. O que não ajuda é a sua frase de sexta-feira passada, numa entrevista ao Jornal Económico: “O PS nunca mais precisará da direita para governar.” A pergunta que se impõe vai em bom inglês: “Sure?”

Jorge Simões, ex-presidente da ERS (8)

O Tribunal de Contas pôs-se em campo e, pela primeira vez, analisou as contas da Entidade Reguladora da Saúde. E chegou a conclusões desagradáveis: um chefe para cada três trabalhadores (o dobro do que é a prática normal nas restantes entidades reguladoras); taxas cobradas para além do que é necessário; escassos mecanismos de controlo interno. A ERS tem tido um papel interessante de vigilância e controlo de qualidade, num mercado muito concentrado no sector público. Mas precisa de manter intacta a autoridade moral, para que os seus alertas sejam levados a sério pelos vários agentes da Saúde. Espera-se, por isso, que a nova direcção da ERS reveja o documento e siga os conselhos ali contidos.

Rui Vilar, vice-presidente da CGD (7)

Uma comissão de inquérito parlamentar pede dados a um banco público. Um tribunal diz que esses dados têm de ser entregues. E o banco — público, insisto — responde que não o fará. Bem percebo que Rui Vilar, o actual vice-presidente da CGD, aguarda a chegada de Paulo Macedo, porque ele não foi nomeado para tomar decisões sensíveis. Percebo também q7)ue o banco tenha boas razões para querer proteger os clientes, face à lei de sigilo bancário que está em vigor. Mas, no fim da linha, a administração da Caixa não protege ninguém quando desrespeita os tribunais e os deputados, sem sequer fazer o esforço de discutir com eles o que pode ou deve enviar. O resultado, assim, é o pior: só aumenta a desconfiança sobre o que se passa no banco público.

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