Chão da Lagoa: Será Passos uma boa companhia para o PSD-Madeira?

Passos Coelho repete presença na festa anual do PSD-Madeira para receber um banho de multidão. Mas, em ano de autárquicas, há no partido, quem preferisse alguma distância da liderança nacional.

Foto
Passos volta este domingo a Chão de Lagoa NUNO FERREIRA SANTOS

Três anos de Miguel Albuquerque. Três anos de Pedro Passos Coelho no Chão da Lagoa. Manda a tradição, que a festa anual do PSD-Madeira conte com a presença do líder nacional do partido, mas durante o período em que Alberto João Jardim e Passos Coelho coabitaram, nunca chegou à São Caetano um convite para o popular comício madeirense.

Agora, com Albuquerque à frente do PSD do arquipélago, e depois de se ter estreado em 2015 e repetido a presença no ano seguinte, a presença este domingo de Passos no planalto, onde são esperadas 25 mil pessoas – contas do partido – volta a não ser consensual. Nos corredores do PSD-Madeira, em surdina, teme-se que a popularidade em baixa do líder nacional possa contaminar a campanha para as autárquicas de Outubro, numa altura em que o partido tenta recuperar a maioria das câmaras municipais da região, depois do desaire eleitoral de 2013, em que perdeu sete dos 11 municípios.

O inverso tem acontecido com o PS-Madeira, que tem tentado capitalizar o bom momento do Governo, trazendo António Costa ao Funchal sempre que pode. Foi assim quinta-feira, durante a apresentação da recandidatura da Coligação Confiança, liderada pelo independente Paulo Cafôfo, para a qual Costa já tinha conseguido (numa visita anterior) trazer o apoio do JPP, um partido que se movimenta no mesmo eleitorado do PS. Foi assim durante o ano, com a colocação de cartazes em que António Costa aparece junto de Carlos Pereira, presidente dos socialistas madeirenses.

Não tem sido tão assim, com Passos Coelho. Na memória de uma fatia do PSD local, aquela mais próxima de Jardim, subsistem as medidas de austeridade impostas à Madeira, depois de ter sido revelado o buraco nas contas públicas regionais.

Mas se o antigo chefe do governo madeirense nunca foi próximo de Passos Coelho – apoiou Paulo Rangel nas directas de 2010 e não perdoou a ausência do na altura primeiro-ministro na campanha para as regionais de 2011 –, já Albuquerque é um velho conhecido dos tempos em que ambos andavam pela jota. Amigos, pessoais, entre os dois é o Pedro e o Miguel. Por isso, tóxica ou não, a ida de Passos Coelho ao Chão da Lagoa nunca esteve em causa para a actual liderança madeirense.

Assim, quando Passos chegar esta manhã à Herdade do Chão da Lagoa vai decerto sentir-se em casa. À espera, como é habitual, estão 56 stands, representativos de cada uma das 54 freguesias da região autónoma, mais a da JSD-Madeira e a dos TSD, dispostas ao longo do recinto, com uma área aproximada a 140 campos de futebol. Comida e bebida não vão faltar. Nunca faltaram desde que em Maio de 1975, no Norte da ilha, Alberto João Jardim lançou a base para aquele que rivaliza com a Festa do Avante!, como maior evento partidário do país.

O comício-festa, que o partido garante que já reuniu 40 mil pessoas, mudou-se em 1993 para o Chão da Lagoa, num espaço da autarquia do Funchal, e sete anos depois encontrou nova casa, na herdade com o mesmo nome, adquirida pela Fundação Social-Democrata da Madeira (FSDM) por 1,5 milhões de euros à Fundação Berardo.

Os tempos dos excessos de linguagem, de investimento (a festa anual chegou a custar quase meio milhão de euros) e de um copo ou outro a mais já passaram. A herdade, que era a jóia da coroa da FDSM, que chegou a ter um património a rondar os 12 milhões de euros, foi arrendada, já no ano passado, a privados para abater dívida. Mas a festa continua.

Mesmo nos últimos anos do jardinismo, embora o palco do Chão da Lagoa e a ronda pelos stands funcionasse como uma espécie de amplificador para as reivindicações do arquipélago, o tom dos discursos foi normalizando-se. Para trás, ficaram os gritos de independência de Jaime Ramos, as ofertas de Jardim de submarinos a Paulo Portas ou os desejos de pontapés no traseiro para António Guterres.

Com Albuquerque as coisas têm sido, digamos, mais civilizadas, mas os recados para Lisboa continuaram a ouvir- se nas serras sobranceiras ao Funchal, e hoje não será excepção à regra. Esta semana, por mais do que uma ocasião, o presidente do PSD-Madeira e chefe do executivo madeirense não poupou António Costa, a quem acusa de ter em São Bento uma agenda política para controlar a região, através das autárquicas.

A estratégia, argumenta Albuquerque, passa por congelar os dossiers relacionados com a Madeira até Outubro e esse protesto, a par da mobilização do partido para o combate eleitoral que se avizinha, deverá atravessar as intervenções políticas no planalto do Chão da Lagoa. Além de Albuquerque, sobem ao palco o líder da JSD local, André Alves, cabendo a Passos Coelho encerrar os discursos, num ano em que a brasileira Fafá de Belém, repete a presença, como cabeça de cartaz.

Já Jardim, que na estreia de Passos apareceu após os discursos e no ano passado ficou em casa, não revela se vai ou não à festa que criou.

Sugerir correcção
Comentar