Chão da Lagoa: no centro do laranjal, Passos é um homem feliz

O à-vontade com que Passos Coelho mergulhou no Chão da Lagoa surpreendeu mesmo os próprios dirigentes locais do partido.

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Passos mergulhou na Festa de Chão da Lagoa LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Num país político praticamente todo pintado de rosa, do Minho aos Açores, bem no centro do laranjal madeirense Pedro Passos Coelho sentiu-se em casa, este domingo, no Chão da Lagoa.

O líder do PSD chegou à festa anual do PSD-Madeira, acompanhado do ex-líder parlamentar Luís Montenegro e do secretário-geral do partido, Matos Rosa, mas depressa tirou o blazer, misturou-se com a multidão, estimada pela organização em 23 mil pessoas, e tratou logo de dizer ao que ia.

O partido, disse aos jornalistas que o aguardavam, tem de “pôr todas as forças no terreno”, para enfrentar as autárquicas de 1 de Outubro e prosseguir o esforço para o crescimento do país. “Precisamos que os momentos para que trabalhámos tanto não se esfumem na conjuntura e possa manter para os próximos anos, um bom ritmo de crescimento”, acrescentou, antes de arrepiar caminho para a zona onde estavam colocadas as barracas das freguesias do Funchal.

No ano passado, justificou, não tive tempo de ir a todas, mas este ano não quero faltar a nenhuma. E assim foi. Talvez por não ter os espartilhos que o cargo de primeiro-ministro o imponha, Passos, que cumpria a terceira presença no Chão da Lagoa, esteve mais disponível do que nos anos anteriores. Bebeu. Comeu. Dançou em comboio. Tocou ‘brinquinho’. Distribuiu cumprimentos e beijinhos. Riu. Riu muito. E demorou-se em cada um dos 57 stands – 54 por cada uma das freguesias do arquipélago, mais os da JSD, TSD e ARASD –, a ponto de, em várias ocasiões, ser o anfitrião, Miguel Albuquerque, a  apressá-lo.

Mas Passos não estava com pressa. Gosta de “estar junto das pessoas”. Primeira paragem, Funchal. Primeiro copo, uma poncha, pois claro. Seguiram-se outros, e pratos também porque nem só de brindes, vive o homem.

Vinho do Porto Santo, check. Maçaroca de Santana, check. Sidra do Santo da Serra, check. Chicharros fritos e ginja de Câmara de Lobos, check. Cerveja Coral aqui e ali, check. Carne de Vinho e Alhos, check.

Montenegro acompanhava. “É bom estar aqui. É genuíno”, dizia de passagem ao PÚBLICO, para admitir uns pouco à frente: “É um excelente palco, uma forma informal de estar com as pessoas”.

“Esta é a festa do PSD que mobiliza mais pessoas, e isso é importante, que o PSD se mantenha como um partido que tem uma raiz popular, que está próximo das pessoas”, salientava Passos Coelho, depois sublinhar que o papel de um líder da oposição é denunciar o que não está bem, e apontar caminhos para levar mais ambição às pessoas.

Sobre política, não só falou mais antes da hora de subir ao palco. Hora atrasada, dada a informalidade de Passos, que ia ficando para trás a cumprimentar alguém ou a pousar para uma selfie. “Vamos Pedro”, ia dizendo Albuquerque.

A disponibilidade do líder nacional do partido, surpreendeu mesmo os dirigentes regionais, e já sobre o palco, terminada a ronda pelas barracas, Passos ‘fez-se’ madeirense e começou as críticas ao Governo precisamente pelas reivindicações da região autónoma.

Lamentou as promessas não cumpridas por Lisboa em relação ao financiamento do novo hospital do Funchal. Foi incisivo com o facto do Estado não ter indexado os juros que cobra pelo empréstimo feito à Madeira aos que paga pelos financiamentos externos, para afirmar que, fosse ele primeiro-ministro, os madeirenses não seriam tratados como portugueses de segunda.

“Mas não é só quanto à Madeira que o Governo falha”, disse, insistido que o País precisa do PSD, porque, garantiu, só o PSD consegue fazer as reformas necessárias para a economia portuguesa continuar a crescer.

O país, admitiu, está a crescer, mas à custa das reformas efectuadas no passado. E são essas reformas que devem prosseguir, para que a economia portuguesa possa continuar a crescer nos próximos anos. “Existem tantas cigarras na política portuguesa, tanta gente que só sabe falar. Mas caramba! Quando é preciso tomar decisões, não é para todos, não tem sido para todos. O PSD é que as tem tomado”, sustentou, acrescentando: “Nós fazemos falta a este país”.

O presidente do PSD acusou o Governo de só saber viver de “boas notícias” e de nunca assumir responsabilidades, quando as coisas correm mal. “Ou atira as culpas para o passado, ou culpa o líder da oposição ou de quem está a passar pelo caminho”, continuou, dizendo que mesmo nas questões em que existe intervenção directa do actual executivo, nada é feito para resolver.

“O Governo não sabe sequer resolver os problemas que ele próprio cria”, disse, exemplificando com o Banif, lembrando que Costa disse, esta semana também no Funchal, que as pessoas foram enganadas por um sistema que as aldrabou. “Pergunto eu, quem é que criou a resolução do Banif? Não foi o dr. António Costa?”

Antes, Miguel Albuquerque tinha apresentado um a um os candidatos às 11 câmaras municipais do arquipélago às autárquicas de 1 de Outubro, por entre muitas críticas à gestão que está a ser feita pela oposição em sete delas. No final, um recado para as “carpideiras” que não acreditam na capacidade de mobilização do PSD-Madeira. “Disseram que íamos perder a maioria nas regionais de 2015, ganhámos. Diziam que íamos perder as legislativas de 2015, ganhámos em 10 dos 11 concelhos. Diziam que íamos perder as presidências, arrasamos os outros candidatos.”

No final, já fora do palco, e com a brasileira Fafá de Belém a cantar, Passos Coelho regressa à multidão, para mais Chão da Lagoa.

E se a pergunta que na edição de ontem fizemos, se Passos Coelho, em ano de autárquicas, seria boa companhia para o PSD-Madeira, acrescentando que só poderá ser respondida em Outubro, ficou este domingo, no Chão da Lagoa, uma certeza: O PSD-Madeira é boa companhia para Passos Coelho.

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