CDS acusa primeiro-ministro de “torturar” dados para “fabricar” a realidade

Vice-presidente do partido contesta gráficos exibidos pelo primeiro-ministro durante o debate quinzenal

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Cecília Meireles avança uma outra interpretação para os números da economia Rui Gaudêncio

No rescaldo do debate quinzenal, o CDS-PP contesta a forma como o primeiro-ministro, António Costa, apresentou três gráficos sobre investimento e exportações para concluir que estão a subir este ano face a 2015. “É torturar os números até contarem a história que querem”, afirmou ao PÚBLICO a vice-presidente do partido, Cecília Meireles.

Na passada quinta-feira, António Costa exibiu perante os deputados três gráficos sobre a evolução das exportações de bens e serviços, o investimento em capital (formação bruta de capital das sociedades não financeiras) e o investimento (variação em cadeia). Não tinham fonte identificada mas o primeiro-ministro disse, durante o debate, terem por base números oficiais. O problema, segundo o CDS, não é esse. Os dados são, de facto, do Instituto Nacional de Estatística (INE), mas foram trabalhados de forma a "fabricarem" conclusões “distorcidas”, segundo o partido liderado por Assunção Cristas.

No caso do investimento em capital das sociedades não financeiras que excluem bancos e seguradoras, o gráfico exibido por António Costa - e distribuído aos jornalistas -  mostra valores negativos desde o segundo trimestre de 2015 e uma subida de mais de 50% no primeiro trimestre de 2016. Segundo o CDS, não foi introduzida a correcção da sazonalidade e os dados incorporam a variação dos preços, o que pode alterar as conclusões. Relativamente ao gráfico do investimento, a imagem mostra uma queda abrupta no último trimestre de 2015 – período de transição do anterior Governo PSD/CDS e o actual executivo - e uma subida no segundo trimestre deste ano já com o actual Governo em plenas funções. Cecília Meireles sustenta que o gráfico “foi construído” por ser “impossível tirar aquela conclusão”.

"O investimento está em queda abrupta, não é só o CDS que o diz são todas as instituições”, afirma a deputada, aconselhando a consultar os dados do INE. Outro dos problemas que os centristas detectaram nos gráficos apresentados tem a ver com o período curto que foi abrangido e que pode ser enganador. É o caso do gráfico das exportações. “Só com variações longas é que se percebe que exportações estão a desacelerar, além de que no documento distribuído pelo primeiro-ministro “só compara volumes e não taxas de crescimento”.

Exibindo os três gráficos, António Costa quis “desmontar três mitos” que a direita construiu – o de que o investimento, as exportações e a economia estão em desaceleração. Só a evolução do PIB não foi retratada em tabela ou gráfico. Mas o primeiro-ministro fez um resumo: “É falso que não estejamos a crescer mais do que estávamos a crescer no ano passado, a exportar mais do que estávamos, e o investimento a crescer e mais investimento estrangeiro”. A frase deixou incrédulas os deputados da bancada do PSD e do CDS. Os dois partidos têm sustentado o seu discurso nos efeitos negativos que a economia já está a viver em resultado das políticas do actual Governo e precisamente no investimento, nas exportações e no crescimento económico. 

Cecília Meireles lembra que não é preciso apenas comparar os números deste ano com os dados de 2015 mas também com as promessas do PS. “No cenário macro económico do chamado grupo dos sábios a previsão de crescimento económico para este ano era de 2,4%. Estamos a crescer 0,9%”, refere a deputada, desafiando o Governo “a concentrar-se em encontrar políticas que estimulem o crescimento em vez de tapar o sol com a peneira”.

Um dia depois do debate, deputados do PSD e do CDS alertaram para a “pesca à linha” de dados para a “propaganda” do primeiro-ministro. O social-democrata António Leitão Amaro também distribuiu aos jornalistas um gráfico com o saldo externo de bens e serviços que mostra as exportações em terreno negativo neste segundo trimestre. O documento não tinha fonte identificada, mas o deputado referiu ter sido retirado do INE e aproveitou para dizer que os números oficiais “desmentiram” o que António Costa disse durante o debate. O PÚBLICO tentou contactar o gabinete do primeiro-ministro, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.

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