BE e PCP falam em chantagem de Bruxelas, para o CDS contas do Governo “não batem certo”

Assunção Cristas preocupada com o facto de o Governo parecer não estar "a ver para onde nos está a levar". Catarina Martins diz que BE está pouco interessado na “chantagem da Comissão Europeia”, o que importa “é responder pela vida das pessoas”. PCP recusa ingerências da Comissão Europeia.

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Para Catarina Martins, “números da Comissão Europeia demonstram” que se começou a reverter austeridade Miguel Manso

A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, considerou nesta terça-feira que as previsões da Comissão Europeia, que alertam para o aumento do défice estrutural e prevêem menos crescimento em Portugal, têm "muito de chantagem", embora os números demonstrem que a reversão da austeridade traz a consolidação das contas públicas. Também o deputado do PCP Paulo Sá condenou as "ingerências, pressões e chantagem" de Bruxelas sobre Portugal e afirmou que "é preciso muita firmeza" para continuar com as políticas de reposição de "rendimentos e direitos". Já o CDS-PP, pela voz da líder Assunção Cristas, insistiu que "as contas" do Governo "não batem certo" e que as medidas não correspondem às necessidades, lamentando que todas as semanas existam alertas sobre a situação do país.

"Nas projecções da Comissão Europeia há muito de chantagem de quem quer sempre impor a austeridade como uma política única. Mas, julgo que hoje os números da Comissão Europeia demonstram é que começarmos a reverter a austeridade, esse sim, é um passo de consolidação das contas públicas", sustentou Catarina Martins, no fim de uma visita à Escola de Cães Guia de Mortágua.

A porta-voz do BE sublinhou que comentar as décimas das projecções da Primavera da Comissão Europeia, que apontam que o défice orçamental de Portugal vai ser de 2,7% este ano, acima dos 2,2% previstos pelo Governo, é uma forma de "dizer coisas que ninguém percebe o que significam".

"Quando discutimos décimas estamos a falar de muito pouco. Há coisas que são concretas na vida das pessoas, como o aumento do salário mínimo, a reposição dos salários, menos impostos para o trabalho e os feriados, ou seja, dias de descanso para as pessoas", alegou.

A dirigente bloquista admitiu que ainda há muito por fazer, uma vez que em Portugal os salários continuam a ser baixos e ainda há muita precariedade e desemprego. "A nós interessa-nos pouco a chantagem da Comissão Europeia, o que nos interessa, sobretudo, é responder pela vida das pessoas. A Comissão Europeia está um bocadinho aborrecida porque percebeu que os números estão melhores com políticas de reposição de rendimentos: a verdade é que vai reconhecendo que as contas públicas ficam mais saudáveis com uma política que protege as pessoas", acrescentou.

Para a porta-voz do BE, as projecções indicam mesmo que a reposição de rendimentos começa a dar os primeiros passos, o que vai promover o crescimento da economia e a criação de emprego. Catarina Martins disse ainda que a Comissão Europeia tenta, todos os dias, condicionar o Governo português e os seus Orçamentos. "O que nós temos é de lembrar todos os dias à Comissão Europeia, e o BE lembrará seguramente todos os dias, que quem decide o percurso da nossa Economia e do nosso país é quem cá vive, quem cá vota e quem escolheu outra maioria", concluiu.

“Firmeza” nas políticas iniciadas

Também o deputado comunista Paulo Sá disse que o PCP “rejeita liminarmente esta política de ingerências, pressões, chantagem que a Comissão Europeia exerce” sobre Portugal, defendendo ser “preciso muita firmeza no prosseguimento da política iniciada há uns meses, de devolver salários, pensões".

Em declarações no Parlamento, criticou PSD e CDS por não esconderem o “entusiasmo quando qualquer organização internacional ou nacional aparece a criar cenários que criam dificuldades à aplicação das medidas de recuperação de rendimentos".

Segundo o deputado do PCP, "a CE aproveita o boletim de Primavera para, mais uma vez, tentar exercer pressões" e "criar dificuldades à aplicação de medidas de devolução de direitos, que têm sido executadas nos últimos meses, e criar condições para se voltar às políticas de exploração e empobrecimento".

"A CE está sempre disponível para aprovar ajudas a bancos privados de milhares de milhões de euros, levando a que o défice dispare e aí não há problema nenhum, mas quando se trata de qualquer medida, por mais pequena que seja, de devolução de direitos e rendimentos aos trabalhadores e ao povo, isso já constitui um problema", condenou.

"Não há um clima de confiança”

Já a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, insistiu que "as contas" do Governo "não batem certo". Em declarações aos jornalistas, à entrada para um almoço do International Club of Portugal, em Lisboa, acrescentou ainda: "Infelizmente não há uma semana que passe que não haja o alerta de uma entidade independente, seja nacional, seja internacional.”

Manifestando-se "muito preocupada" com os números revelados, a líder do CDS-PP destacou o facto da Comissão Europeia sinalizar nomeadamente a baixa do investimento, sublinhando que sem investimento não há criação de riqueza ou emprego e Portugal está "em piores condições.

A Comissão Europeia, acrescentou, sinaliza igualmente a questão dos impostos indirectos, que "o Governo costuma dizer que não tem nenhuma importância e que não afecta em nada a economia".

"As contas não batem certo, as medidas não correspondem às necessidades e por outro lado, há erros que estão a ser cometidos", disse.

Questionada sobre as declarações do Presidente da República, que considerou que se o défice ficar este ano nos 2,7% será "uma boa notícia", a líder do CDS-PP respondeu apenas que a visão dos democratas-cristãos é a mesma de sempre.

"Não há um clima de confiança para os investidores", frisou, reiterando a sua preocupação com a situação do país e com o facto de o Governo parecer não estar "a ver para onde nos está a levar".

"Gostaria de não ter razão, preferiria que não aparecesse nenhum plano B nem nenhumas outras medidas e que tudo corresse muito bem, infelizmente semana após semana o que ouvimos e o que vemos nos relatórios e aquilo que atestamos no terreno vai no sentido inverso", afirmou, lembrando "um Governo que até ao final negava que houvesse um qualquer problema", numa alusão ao executivo liderado por José Sócrates, e dizendo que esperar que "o mesmo não aconteça com este" executivo.

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