BE defende ensino de língua gestual portuguesa nas escolas

Com swing, revolta e promessas de inclusão, caravana do Bloco segue caminho.

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Bruno Lisita

A manhã começa na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, com promessas de lutar pelo Serviço Nacional de Saúde e pelos direitos de quem nele trabalha. A noite terminaria num comício em Setúbal. Ontem, o Bloco de Esquerda ainda teve tempo de descer a Rua Morais Soares, em Lisboa, e de tomar nota de todas as reivindicações da Associação Portuguesa de Surdos.

Na Morais Soares, em vez das habituais gaitas-de-foles e tambores, o Bloco caminhou ao som do swing de trompetes e de saxofones. Ao longo de 700 metros e durante três quartos de hora, entre as praças Paiva Couceiro e do Chile, num percurso que normalmente nem dez minutos demoraria, as queixas que os candidatos ouvem são muitas. Cruzam-se com uma mãe que diz aos filhos: “Estudem para emigrar”. Reformas baixas, taxas moderadoras elevadas, o preço dos livros.

O momento mais caricato acontece quando José Gomes, 60 anos, encarregado de uma empresa de construção civil, grita: “Eu sou um revoltado!” Os jornalistas, e são muitos, olham todos para ele. “É só isto, obrigados. Sejam felizes.” Tarde demais. Quando dá por ela, José Gomes tem as câmaras de filmar e os microfones todos à volta. Lá se explica: votava PS ou CDU, agora vai votar BE. Quer dizer “não” à política deste Governo. Diante da eloquência de José Gomes e com a agitação que ali se criou, a porta-voz aproxima-se: “Disseram-me que devia vir aqui falar consigo.” Dali, Catarina Martins só ouve elogios: “Estou a olhá-la nos olhos”, começa por dizer José Gomes antes de deixar uma promessa solene, a de que ele e toda a família votarão Bloco.

À tarde, quando foi à Associação Portuguesa de Surdos (APS), Catarina Martins tinha a resposta para uma das dificuldades apontadas. O presidente da associação, Jorge Rodrigues, lembrou os obstáculos que enfrentam para acederem a toda a informação veiculada pelos diferentes partidos e a porta-voz garantiu-lhe que o Bloco gravou um vídeo com todo o programa em língua gestual portuguesa. O BE defende ainda no programa eleitoral o ensino de língua gestual portuguesa nas escolas.

Na APS, a porta-voz do BE, acompanhada pelos candidatos Mariana Mortágua e Pedro Filipe Soares, ouviu ainda a história de um casal de mulheres, em que uma tem um filho e a outra está grávida. Pela lei, cada uma é mãe só de uma daquelas crianças, mas o que elas queriam era serem ambas mães das duas. Catarina Martins garantiu-lhes que o tema está no topo das prioridades do Bloco, é um “compromisso” para o início da legislatura. “Não tenho dúvidas nenhumas de que são mães por inteiro dos vossos filhos”, disse-lhes.

Antes, de manhã, à porta da Maternidade Alfredo da Costa, e depois de uma reunião com o conselho de administração e os directores de serviço, a candidata insistiu na necessidade de não deixar fugir os médicos e enfermeiros para os sistemas de saúde privados e para o estrangeiro.

Questionada sobre as medidas para resolver o problema da natalidade no país, defendeu que a solução passa acima de tudo por emprego, salários. Mas também por apoios: “Precisamos, em Portugal, de apoios à infância a sério: creches públicas. As creches em Portugal são mais caras do que as propinas da universidade.” 

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