Armando Vara contraria relato de Campos e Cunha na comissão parlamentar

Ex-ministro diz que o almoço foi apenas um encontro de amigos. Ex-administrador recorda de uma forma diferente o encontro e revela que foi "uma sondagem".

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Armando Vara afirma que encontro com Campos e Cunha foi "uma sondagem" Adriano Miranda/PÚBLICO

O antigo ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha, queria mudar o rumo da Caixa Geral de Depósitos (CGD), afirma Armando Vara, ex-administrador do banco, em declarações ao jornal i.

O encontro com o antigo ministro das Finanças e o antigo administrador da Caixa foi revelado há dez dias, durante a audição na comissão parlamentar de inquérito. Campos e Cunha afirmou então que à data estava a ser pressionado pelo antigo primeiro-ministro José Sócrates para demitir a administração do banco público. Campos e Cunha garantiu que o almoço foi apenas um encontro de amigos e negou que fosse um convite a Vara para a administração do banco.

Diferente interpretação do encontro teve Armando Vara, que ao jornal i disse ter entendido a conversa “como uma sondagem”. “É óbvio que a razão pela qual me chamou era porque estava a pensar mexer na Caixa Geral de Depósitos”, afirma o antigo administrador do banco público, que chegou à administração já durante a tutela de Teixeira dos Santos.

“A certa altura falou-se da Caixa, ele perguntou-me como estavam as coisas no banco, disse que gostava de ouvir a minha opinião, porque estava a pensar mudar a governance e criar uma holding, uma coisa assim do género.”

“Perguntou-me ainda se não me importava de fazer um paper com ideias que pudessem ser relevantes para o futuro da instituição. Mas, como dez dias depois já não era ministro, não cheguei sequer a enviar”, acrescenta o ex-administrador.

De acordo com Vara, havia muitas instituições distintas de que a CGD era proprietária e em causa estaria a sua separação, tendo todas elas essa holding como proprietária. “Houve uma altura em que se falou muito nisso. A Caixa é proprietária do banco em Espanha, do banco em Moçambique, é proprietária do banco de investimento, é uma holding em si. Tudo é do banco. Na altura, o que se pensava é que era necessária uma holding acima que tivesse a Caixa e as restantes instituições. Mas, nesse encontro, ele não entrou em detalhe. Sei, porém, que na altura era uma ideia”, adianta.

“Acho que aquilo foi um absurdo e acho que nem ficou bem a um ex-ministro das Finanças ter dito que foi almoçar com uma pessoa, que pagou do bolso dele e que rasgou a factura para não ficar nada registado. Então para que falou disso se era privado? Eu nunca falei desse almoço com ninguém”, continua Armando Vara criticando as declarações de Campos e Cunha.

O antigo administrador justifica que o faz agora por ter visto o seu nome a ser envolvido no processo, mas reforça que nunca fala sobre conversas privadas. “E é isso que faz as pessoas confiarem em mim”, assevera.

Armando Vara afirmou ao jornal que está disponível “para ir à Assembleia da República explicar tudo aquilo que entenderem”, desde que tenha conhecimento dos assuntos em causa.

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