A semana de 26 a 30 de Setembro

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Comentário: Empate

PÚBLICO -
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Se as eleições fossem disputadas nas capas de jornais, nas aberturas de telejornais, nas rádios e nas páginas de abertura online, então teríamos um empate no domingo. O cenário que nos dizem ser impossível acontecer nas urnas já aconteceu nas notícias desta semana. A campanha eleitoral do PS e do PàF (PSD-CDS) representaram cada uma 11% das notícias dadas - com uma ligeira vantagem para o PS, ao contrário do que indicam algumas das sondagens que fomos vendo surgir nos jornais.

Quanto à atenção dada aos restantes partidos, se fizermos fé apenas nas notícias, seriamos levados a pensar que há apenas mais dois partidos com relevo na sociedade portuguesa: CDU e Bloco de Esquerda. A surpresa está também em que a atenção noticiosa dada à CDU supera em dois pontos a dada ao Bloco - mesmo que as sondagens sobre intenções de voto os dêem, por vezes, tanto mais próximos como mais distantes.

Pela curiosidade ou pelas variações entre elas, as sondagens foram o terceiro tema mais presente nas escolhas jornalísticas nacionais e, por isso, também estiveram sempre presentes nas conversas de militantes nas diferentes acções de campanha dos partidos.

No entanto, o mais interessante sobre a cobertura política não está nas sondagens mas no que foi afastado da dinâmica da cobertura - embora tendo influência na medição de aprovação das sondagens. Estamos a falar, por exemplo, do fraco interesse jornalístico registado face à temática da ocultação ou não do prejuízo do BPN em 2012. Os temas não oriundos das acções de campanha, como são os exemplos dos casos das contas da Parvalorem, do impacto da capitalização do Novo Banco ou a análise jornalística às estratégias políticas dos partidos envolvidos na campanha, tiveram nesta cobertura eleitoral um peso muito reduzido no destaque jornalístico. Muitos analistas referem que estas campanhas estão desactualizadas, mas sem este modelo parece ser difícil dar notícias.

Nem só de campanha portuguesa se viveu nesta semana, de algum modo, talvez as eleições catalãs possam vir a ter influência em Portugal, pois mostraram que um sufrágio pode chegar até à escolha da independência e não apenas a uma mudança de políticas.

Da nossa campanha resulta que à medida que nos aproximamos do dia de votar diminuiu a atenção dada às temáticas políticas que marcarão governação dos próximos quatro anos. A conclusão perigosa poderia ser que ninguém quer saber da governação que se segue, só interessa descobrir no Domingo qual o rosto da governação.

Tema emergente: Perdedores

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Que futuro para os perdedores de domingo? Daniel Rocha

Sempre que há eleições toda a gente discute quem ganhará, mas nessa discussão está implícito que haverá quem perca as eleições. Os partidos, por norma, têm extrema dificuldade em admitir as causas das derrotas ou dos resultados abaixo dos objectivos. Seria bom ter alguma novidade na próxima semana, como por exemplo, manter os líderes que perdem para que na próxima ganhem. O mais provável é que um dos dois partidos mais votados sinta um irresistível ímpeto para mudar de liderança. Será interessante pensar se os partidos portugueses procurarão fazer como noutros países e alargar a escolha a mais do que duas hipóteses de liderança ou se só o farão depois de irem a presidenciais.

Não foi notícia: Vazio azul

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Temas importantes ficaram à margem da campanha Daniel Rocha

Após meses de pré-campanha e duas semanas de campanha oficial, fica um grande vazio azul. Um imenso oceano de questões concretas, quotidianas, relevantes e sensíveis para os cidadãos, que passaram à margem dos discursos partidários e não tiveram eco nos media. Questões de justiça, saúde, educação, segurança e até ambiente… Na educação parece não haver problemas. Na saúde publicitou-se a vitória dos enfermeiros, mas esqueceu-se 1,2 milhões que continuam sem médico de família, o que significa que os cuidados primários não estão assegurados. A segurança e a justiça deixaram de ser assunto de discórdia. E assim se fez campanha, com todos a alinharem pelo silêncio de quem olha para o lado.

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