A investigação, quando vier, que seja independente

Quando essa outra investigação vier, que seja feita ou fiscalizada por uma entidade independente. Não é desconfiar, é garantir que, no fim, todos ficamos descansados.

Ainda bem que o primeiro-ministro o percebeu: a tragédia de Pedrógão Grande não pode ficar sem respostas - e infelizmente elas não podem esperar que as operações terminem. No despacho que assinou na segunda-feira, António Costa pediu informação "urgente" à GNR, Protecção Civil e IPMA sobre três dúvidas que não podem ficar suspensas: se a GNR desviou veículos para a "estrada da morte"; se o sistema de comunicações de urgência falhou e com que consequências; que problemas atmosféricos especiais podem ter desencadeado tudo isto.

Tinha mesmo de ser assim. Porque a cada pergunta que se faz nos briefings sem que existam respostas, o ponto de interrogação aumenta de escala. Um exemplo, vindo de ontem: tem fundamento a informação de que a GNR desviou os automóveis para a Estrada Nacional 236 no passado sábado? O tenente-coronel da GNR, Carlos Ramos, não soube responder. “Não domino essa informação. Cheguei [a Ansião] numa altura em que isso já tinha passado”, disse. Tinha passado? Como assim?

Mas há outros dados que nos levam a ter legítimas interrogações sobre o que se passou no terreno. Uma notícia do Expresso leva-nos para um cenário caótico à chegada de Marcelo ao centro de operações, no sábado já bem depois das 22h00. E mostra-nos muita descoordenação, muita desorientação. Olhando para o site da Autoridade de Protecção Civil, há cinco comunicações registadas desde o início da tarde: a primeira depois das 14h00, uma última às 22h41, já a pedir psicólogos para um local específico. A hora em que sabemos da existência das primeiras vítimas, 19, é às 23h35. Ontem, o Correio da Manhã dizia que o comando distrital de Leiria só assumiu o comando das operações quase às 20h00 (já depois da tragédia na EN 236).

É perfeitamente admissível que as condições metereológicas dêem explicações plausíveis para o que aconteceu no sábado. É também muito claro, agora, que o comando das operações ficou sob controlo na madrugada de domingo. Mas nada disto pode continuar a pesar sob as nossas cabeças. Pelo que as respostas serão bem-vindas, antes mesmo da tal investigação final que Costa remeteu para depois de encerradas as operações.

E neste caso o PSD tem razão. Se não for pedir de mais, ajudem-nos nisto: quando essa outra investigação vier, que seja feita ou fiscalizada por uma entidade independente. Que seja transparente. É que todas as organizações envolvidas nesse inquérito são públicas. E o Governo também tem muito a perder neste caso. Não é desconfiar, é garantir que, no fim, todos ficamos descansados.

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