A discórdia é consensual

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Será para sempre lembrado como o visionário revivalista que soube reabilitar a importância da simples cabine de telefone com moedas num tempo de totalitarismo dos smartphones. Sim, ainda é possível comunicarmos como numa série de TV dos anos 80. Foi também responsável pelo regresso dos planos fixos filmados durante horas do portões das cadeias, dando tempo em casa para comermos 20 pacotes de batata frita. É um espectáculo.

Outro dos legados de José Sócrates, se quisermos fazer inteira injustiça a uma figura singular de nove séculos de Portugal, foi ter incentivado as autoridades judiciais e policiais a nunca, mas nunca, deixarem de violar as suas próprias regras. A fazerem um estardalhaço medonho, violando o segredo de justiça, pingando acusações vagas em jornais, revistas e televisão. A usarem as fugas especulativas para terem uma prisão real mais fácil.

Desde um outro 25 de Novembro, há 40 anos, que não se via tanto português a opinar. O ar saturou-se de opiniões. Mas a ciência da biografia política tem regras, e muitos dados sobre José Sócrates podem ser já dados como assentes e indesmentíveis. Ninguém, no futuro, em rigorosa consciência e inconsciência, poderá contestar os factos que a seguir se apresentam.

José Sócrates Pinto de Sousa, o “animal feroz”, nasceu em 1957 no Porto mas foi registado em Vilar de Maçada, Alijó, e acabou por passar toda a infância e juventude na Covilhã, provando-se assim que, já em bebé, ele era muito esquisito e dissimulado, aparentando ser uma coisa e sendo outra. Saltava de um lado para o outro a meter o nariz, a mim é que ele nunca enganou, aliás enganou mas já não engana mais, disse uma pessoa que ia ali na rua a passar.

Na escola primária, o generoso José terá sido o autor de um episódio bonito ao oferecer uma maçã rosada à linda professora. Mas, segundo fontes da PJ que pediram o anonimato, é natural que o aldrabão tenha desde logo furtado essa maçã do pomar ao lado — para com ela roubar o primeiro beijo —, preparando cedo uma vida de crime e dissipação dos escassos recursos do país no posterior exercício das suas funções como primeiro-ministro. A maçã terá sido, sem dúvida, o princípio dos 20, aliás 25 milhões de euros que ele escondeu no estrangeiro para lavar, pensavas que te escapavas, Socras. Como escreveu um popular atento e preocupado nas redes sociais: “Direitos Humanos? (…) Se fosse pobre podia ir aos imporrões já não fazia diferença. Sam todos iguais sempre a portegerse caramba. (…) Tiveram azar desta vez! Tão parente um juiz que os tem no sítio!”

As nossas fontes concordam. O juiz Carlos Alexandre não comenta porque foi dar umas voltas à igreja de Mação para rezar o terço e descansar das incessantes rusgas e interrogatórios, mas o Presidente manda dizer que todas as instituições estão a funcionar em plena normalidade no país.

Nesse tempo de menino nas Beiras, José corria pelos campos atrás dos passarinhos gritando — e como ele gosta de gritar com os outros — que estava a fazer jogging. É mais um traço de uma personalidade distorcida porque essa palavra só apareceu muito depois por cá. Aliás, ele só aprendeu inglês técnico ainda mais tarde, num curso de “engenheiro” que acabou num domingo.

Pior, a justiça acabará por provar (são vários meses de escutas telefónicas gravadas) que a maior parte dos quilómetros das corridas nas ruas das capitais estrangeiras, em adulto, foram feitos não por ele, mas pelo seu motorista. João Perna era “testa-de-ferro” e andava com malas de dinheiro entre Lisboa e Paris, mas era também o seu “perna-de-ferro”, correndo quilómetros em calções, fazendo-se passar por Sócrates. Este ficava em casa a congeminar planos corruptos para emagrecer o corpo e engordar as contas offshore. À justiça o que é da justiça, ao jogging o que é do jogging.

Calma, isto está um pouco confuso. Um pouco de contraditório?

Em Maio de 2010, no Brasil, Chico Buarque ficou zangado por Sócrates ter dito que o cantor o queria conhecer pessoalmente, quando era precisamente o contrário. Mas Chico Buarque já aderira, previamente, a esta bandalheira absurda inventada por motivos políticos, à ignóbil cabala contra o PS e para destruir um inocente com acusações que serão desmentidas nos órgãos próprios de um Estado de direito, todos serão responsabilizados pelas suas calúnias, é melhor tomarem já um xarope para o que aí vem quando ele começar a falar.

Houve umas casitas um bocado estranhas desenhadas e aprovadas por Sócrates em Valhelhas, Covadoude e Rapoulas, nos seus tempos de técnico camarário na Covilhã. Queriam o quê, as pessoas a viver na rua só porque as casas eram feias e erguidas numas terras com vacas a passar na rua e com nomes que parecem inventados para diminuir o usufruto da plena cidadania? O que é que Valhelhas é menos do que, para dar assim exemplos ao acaso, a Rua Braamcamp ou o Seizième de Paris? Filosoficamente falando, a igualdade de oportunidades, incluindo a de habitação, deve ser um direito universal, assim como a presunção de inocência e a presunção tout-court.

Aterro sanitário da Cova da Beira, Freeport de Alcochete, Face Oculta, controlo da TVI, Universidade Independente, Figo/Tagus Park? Continuamos a falar do passado para quê? Este processo só agora começou, avisou o “preso 44” de uma cabine de moedas na prisão de Évora. E ele tem grandes projectos para o passado, como disse o outro.

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