1.º de Maio de 2016: afinal havia lutas

CGTP terá greves e manifestações em Maio, UGT exige 35 horas na função pública em Julho. Afinal...

O que se passa com os sindicatos? Quando esperavam deles sinais de acalmia (há um governo do PS com apoio parlamentar do PCP e do Bloco, a troika já lá vai, houve um rol de reversões nas medidas mais impopulares), decidiram, neste 1.º de Maio, carregar nas teclas “greve”, “exigência”, “reivindicação”, “aumento”, e todas as mesmo tempo. A CGTP anunciou uma semana de luta para a segunda quinzena de Maio (com greves e manifestações nas empresas) e a UGT exige, já para 1 de Julho, que o governo reponha as 35 horas de trabalho semanal em toda a função pública, qualquer que seja o vínculo laboral dos contemplados. A CGTP vai mais longe: quer estendê-las ao sector privado.

Dito assim parece uma declaração de guerra. Mas filtrado pelas vozes dos líderes nos comícios ainda soa mais convicta e “feroz”. Verdade? Encenação? Há uma atmosfera de exaltação, é certo, mas ela pode pretender atingir dois objectivos antes de chegar ao terceiro, o rol das reivindicações propriamente ditas. O primeiro, será garantir o apoio incondicional ou, pelo menos, muito empenhado, das respectivas clientelas; e este, a julgar pela forma entusiástica como os discursos foram recebidos (nas ruas de Lisboa e Porto, entre a CGTP; no pavilhão Multiusos de Viseu, no comício da UGT), estará minimamente garantido. O segundo, é deixar um sinal público ao governo de que a rua o pressionará até julgar necessário: “se não se portar mal”, como dizia um manifestante, o governo talvez seja deixado em paz. O terceiro é, agitando várias bandeiras, marcar pontos em alguma – e isso, não sendo novidade porque faz parte da estratégia sindical desde há muito, acabará por criar alguma turbulência à gestão “sorridente” de Costa. É que se este 1.º de Maio deixou alguma certeza é que o governo não vai ter vida fácil no que toca aos problemas laborais. Se algo foi já reposto ou devolvido, dentro das contas entretanto feitas, a pressão vai manter-se até que haja mais cedências. Será uma moeda de troca constante, a pressão sindical das ruas a par do comportamento dos partidos à esquerda do PS no Parlamento. “Temos de ser nós a vigiar”, disse um manifestante em Lisboa. E isto diz quase tudo. O resto disseram-no, entre os manifestantes da CGTP, Catarina Martins (“Queremos mais”) e Jerónimo de Sousa, garantindo que “uma nova solução política, ao contrário do que se diz, não vem travar ou esmorecer a luta.”

Há, mesmo assim, ajustamentos inevitáveis nas palavras de ordem. Onde estava “A luta continua, o governo para a rua”, passou a estar (no caso da CGTP), “A luta continua, nas empresas e na rua”; e havia cartazes onde estava inscrita, secamente, a frase “Outra política”, sem ficar claro se é a que hoje existe ou outra que se queira para o futuro. Isto justifica-se por vivermos um período em que tudo é, ainda, incerto: a forma como o governo fará sobreviver as suas medidas, a forma como as negociará com a Europa e a margem de manobra que resta para atender a mais reivindicações. Para já, o que temos é isto: exigências e greves no curto prazo. Para um governo “amigo”, é obra.

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