Moreira e Narciso prescindem de cartazes na campanha das autárquicas

“Para quem é conhecido, os cartazes apresentam mais riscos do que vantagens”, afirma Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho.

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Rui Moreira não tem cartazes afixados no Porto NELSON GARRIDO
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Em 2013, a candidatura de Moreira gastou 40 mil euros em cartazes Paulo Pimenta
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Narciso Miranda admite vir a ter outdoors em Setembro LUIS EFIGENIO / NFACTOS
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O ex-autarca de Matosinhos recebe sms a perguntar se é mesmo candidato LUIS EFIGENIO / NFACTOS

Os outdoors funcionam como um meio de divulgação e de legitimação de um candidato e têm um efeito simbólico de marcação a nível territorial, mas nestas eleições autárquicas há quem prescinda deles, pelo menos para já. Na Área Metropolitana do Porto há dois candidatos – um presidente em exercício, Rui Moreira, e um ex-presidente, Narciso Miranda, que resistem a colocar os seus rostos nas ruas. Mas não são caso único.

Na região do Algarve há vários concelhos em que os primeiros outdoors dos candidatos do PSD à presidência das câmaras de Alcoutim, Monchique e Aljezur, por exemplo, só devem começar a aparecer em Setembro, um mês antes da realização das eleições autárquicas.

Rui Moreira, que se candidata a um segundo mandato no Porto, e Narciso Miranda, que quer regressar à Câmara de Matosinhos, onde já foi presidente, são os que mais se destacam dos restantes candidatos, apostando numa postura mais discreta, que tem adeptos.

Felisbela Lopes, professora de Jornalismo e de Ciência Política da Universidade do Minho, tem uma posição muito clara: “Os cartazes servem para os candidatos sem notoriedade pública. Para quem é conhecido, os cartazes apresentam mais riscos do que vantagens”, declara Felisbela Lopes, observando, por um lado, que ”são muito facilmente vulneráveis a polémicas”, além de serem “sempre espaços para leituras polissémicas e nestas leituras polissémicas abre-se espaço à polémica, que agora é adensada nas redes sociais”.

Na mesma linha, a docente sublinha que em Portugal “não há propriamente uma escola ao nível do marketing político para produzir bons cartazes: ou têm erros de sintaxe, ou erros de semântica, ou a imagem não está bem ou a imagem do fundo não é a mais adequada”.

Felisbela Lopes explica que “os candidatos que estão no poder não precisam de conquistar notoriedade pública, eles são conhecidos,” e afirma que “não é pelos cartazes que se apresenta propriamente obra feita”.

Visão bem diferente tem Luís António Santos. O também é professor da Universidade do Minho admite que tanto no caso de Rui Moreira como de Narciso Miranda - “duas figuras que têm já um conforto muito grande relativamente à imagem”- a opção de não apresentarem outdoors resulta de uma “decisão estratégica por parte das direcções de campanha das respectivas candidaturas”. E embora considere que em relação ao antigo presidente da Câmara de Matosinhos possa haver também razões de ordem financeira, quanto a Rui Moreira afasta esse cenário.

“Há uma certa falsa humildade. A candidatura vai querer passar a ideia de que esta campanha vai ser espartana com os gastos”, afirma. Em 2013, quando se candidatou pela primeira vez pelo movimento independente O Porto é o Nosso Partido, Moreira gastou 40.650.50 euros em estruturas, cartazes e telas, segundo a Entidade das Contas e Financiamentos Políticos.

“Do ponto de vista analítico, o que é que Rui Moreira tem para apresentar aos eleitores [nestas eleições]? Não tem coisa nenhuma, além do que apresentou há quatro anos quando se candidatou. E como não tem nenhuma proposta nova para apresentar, Rui Moreira está a cavalgar uma onda de popularidade num trabalho feito do ponto de vista da comunicação e da assessoria que lhe permite ter esta liberdade de acção”.

“Rui Moreira não apresenta outdoors porque acha mesmo que as eleições estão ganhas”, acrescenta o Luís António Santos, em declarações ao PÚBLICO, recordando, a propósito, que em 2001 “já houve um candidato assim [Fernando Gomes] que também achava que já tinha ganho, mas depois as coisas não lhe correram assim tão bem”. “Não sei se as pessoas que gerem a campanha de Rui Moreira têm essa percepção histórica, mas as pessoas no Porto, às vezes, não gostam de gente que acha que já ganhou e que controla”, observa o professor.

“Não tendo uma mensagem nova para passar, Rui Moreira pode sempre dizer: 'olhem para o que eu fiz'. Eventualmente, haverá pessoas que se sentem confortáveis com o que ele fez, mas há um outro candidato que discute se o que ele fez foi mesmo ele ou foi o outro candidato”, declara numa alusão a Manuel Pizarro, que é candidato à Câmara do Porto e que até Maio tinha um acordo político para a governação da autarquia com Moreira.

Quanto a Narciso Miranda, o professor aceita que na decisão estejam questões de natureza financeira. “Narciso Miranda tem um capital adquirido, que é grande, e que tem ainda uma ressonância muito forte num sector da população de Matosinhos que já lá vive há muito tempo”, afirma, receando que, sem a visibilidade dos outdoors, o candidato independente consiga chegar a um eleitorado mais jovem.

Edson Athayde considera que “é natural que candidatos que têm muita notoriedade não precisem de ser destacados”. “Tudo tem o seu tempo e os outdoors tendem a acabar, com como os comícios dos partidos políticos”, afirmou ao PÚBLICO Edson Athayde para quem nesta matéria não há uma receita única. “Cada candidatura tem a sua própria dinâmica”, acrescenta.

O PÚBLICO tentou encontrar junto da direcção de campanha de Rui Moreira uma explicação para o facto de até agora o candidato independente não ter afixado nenhum cartaz seu na cidade, mas Nuno Nogueira Santos, director de campanha, não quis falar.

Já Narciso Miranda fala de orçamentos apertados e diz que um dos objectivos da sua campanha é gastar pouco e daí que tenha apostado nesta fase em não colocar cartazes de campanha. “Sinto que a minha campanha é muito forte no terreno, mas frágil no financiamento. Queremos gastar apenas o essencial”, reitera, revelando que “muita gente” lhe pergunta se vai mesmo ser candidato. “Muitas pessoas perguntam-se por mensagem e por email se não vou ter cartazes meus nas ruas de Matosinhos, legitimando a minha candidatura”.

O antigo presidente da Câmara de Matosinhos assume que a decisão de não colocar cartazes no concelho nesta fase decorre de uma “decisão estratégica” da sua direcção de campanha. “Em Matosinhos, há uma floresta de cartazes e há candidatos que já afixaram novos outdoors”, conclui Narciso, que não fecha completamente a porta a haver cartazes seu na rua. A haver, só lá para Setembro.

Mas se a Norte são os independentes a recusar ter cartazes, no Algarve é o PSD que atira a afixação de outdoors com os rostos dos candidatos para mais tarde. Esta situação não se verifica em todos os concelhos. O social-democrata, Hélder Cabrita, que lidera a candidatura à Câmara de Aljezur, vai ter de esperar pelo próximo mês para ter o seu rosto espalhado pelo concelho, onde o PSD concorre coligado com o CDS. “As pessoas entenderam que a campanha só devia começar em Setembro pelo que os cartazes só nessa altura é que vão ser afixados”, declarou fonte social-democrata.

Na mesma situação estão concelhos como Alcoutim, Monchique, Lagoa e Tavira, por exemplo. E a questão não se prende com os candidatos, porque esses estão todos escolhidos, mas sim com o timing da campanha eleitoral das autárquicas. Em 15 concelhos do Algarve, o PSD tem cinco presidências de câmaras e em 10 concorre em coligação com o CDS, segundo o anúncio feito pelos dois partidos em meados de Março.

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