Viagens paradoxais

"Não tem ninguém" tornaram-se as três palavras mais bonitas da língua portuguesa.

A bisbilhotice deste Verão, mas só entre os melhores amigos, porque nos outros não se pode confiar para não dar com a língua nos dentes, é inteiramente dedicada aos lugares vazios. Sim, ainda há.

O lugar tem de ser bom, bonito e acessível, com preços razoáveis e muito conforto. No fundo, o facto de estar vazio por esta maravilhosa altura do ano tem de ser surpreendente. Não se percebe porque é que não está cheio de gente. Até descobrir...que não há até.

Os lugares vazios são protegidos por um factor secreto: não lembram ao diabo. Ninguém suspeita que existam. Quem abriu lá um restaurante ou oferece meia-dúzia de quartos para dormir não o fez para investir ou especular. Está contente tal qual estão as coisas. Quer, quando muito, mais um ou dois clientes, mas não quer mais vinte, Deus nos livre.

Há outros turistas nos lugares vazios mas são tão poucos que não dão uns pelos outros. São figuras distantes, como esboços de tinta pintados numa paisagem. Reconfortam, enquadram-se, viabilizam.

"Não tem ninguém" tornaram-se as três palavras mais bonitas da língua portuguesa. Pergunta-se porquê e a resposta, para ser correcta, tem de ser "não sei". Depois vai-se lá e sentimo-nos bem-vindos ao clube: de facto não faz sentido que não esteja cheio.

Todos os lugares que hoje estão cheios já foram lugares vazios. Fala-se num ou noutro, mais antigo, que já voltou a esvaziar depois de ter sido invadido e colonizado. Já não são o que eram mas entretanto - também à custa disso - melhoraram.

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