Uns gajos quaisquer

É infelizmente frequente que sejam uns gajos quaisquer a criar um problema que depois só uns gajos quaisquer podem resolver.

Quando compraram a casa havia uma cave cheio de herbicidas. Telefonaram para o senhorio. Nada. Telefonaram para a câmara. Nada. Telefonaram para o Governo. Nada. Passou um ano - e nada.

Estávamos a ouvir a história e quisemos saber como é que tinha acabado. O nosso amigo encolheu os ombros: "sei lá, vieram uns gajos quaisquer".

Não é a primeira vez que ouço dizer bem de uns gajos quaisquer. Que seria de Portugal se não fossem uns gajos quaisquer? Quem mais se oferece para fazer os serviços, no questions asked, que os outros se recusam obstinadamente a cumprir? A não ser uns gajos quaisquer, quer você dizer? Ninguém.

Diga-se que não é só o bem que praticam. Não, são equilibrados. Muitas vezes as merdas aparecem feitas e, quando se procura atribuir responsabilidades, a autoria é inequívoca: foram uns gajos quaisquer.

É infelizmente frequente que sejam uns gajos quaisquer a criar um problema que depois só uns gajos quaisquer podem resolver. Os cidadãos mais paranóicos até pensam que os primeiros gajos limitam-se a criar empregos para os segundos. É possível. Com aqueles gajos - os quaisquer boys - nunca se sabe.

No mundo anglófono um só indivíduo faz o trabalho todo: é o some guy. Já os portugueses preferem trabalhar sempre em equipa. Aqui um gajo qualquer não resolve nada. Só telefonando a outro gajo qualquer é que começa a fazer sentido: "Ó pá, vamos unir esforços! Se quisermos ficar na história temos de ser uns para os outros!"

E foi isso mesmo o que foram, ainda por cima.

 

 

 

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