Tirem-me daqui

Tirem-me daqui, façam qualquer coisa! Tou mesmo farto da escola!

As aulas são uma tourada. Há uns cromos que tentam estar atentos e dão graxa aos stôres, mas a maior parte quer é que o tempo passe depressa, por isso os gozos não faltam. A stôra de Inglês é a maior vítima, estamos sempre a mandar vir com ela, grita e nós não ligamos nenhuma. Quase todos os dias vai um para a rua e três já levaram dias de suspensão, mas depois fica tudo na mesma.

O Diretor aparece de vez em quando e tudo melhora por um dia ou dois, mas depois recomeça a confusão. O Diretor fala muito, mas não percebemos bemAs aulas são uma tourada. Há uns cromos que tentam estar atentos e dão graxa aos stôres, mas a maior parte quer é que o tempo passe depressa, por isso os gozos não faltam. A stôra de Inglês é a maior vítima, estamos sempre a mandar vir com ela, grita e nós não ligamos nenhuma. Quase todos os dias vai um para a rua e três já levaram dias de suspensão, mas depois fica tudo na mesma.

O Diretor aparece de vez em quando e tudo melhora por um dia ou dois, mas depois recomeça a confusão. O Diretor fala muito, mas não percebemos bem o que ele quer. Diz que nós somos as mulheres e os homens do futuro, o Bruno diz que Portugal não tem futuro e que está toda a malta a emigrar. Eu não sei. Vejo que o entusiasmo dos professores não existe, estão todos lixados porque têm uma prova de avaliação e que o Ministério os trata mal. E não tenho paciência para ouvir os professores nem o Diretor: consigo sempre mandar umas mensagens sem que ninguém note e a minha cabeça está bem longe daquelas matérias que os stôres nos exigem. Penso no Benfica, ou então olho pela janela, imagino que dentro em pouco estarei a olhar para a Inês e a pensar que um dia vou ter uma conversa a sós com ela, num canto do pátio onde ninguém nos veja…

Tou no 8º D, uma turma onde pouca gente se aproveita. Das miúdas só uma é fixe, as outras estão sempre a falar em respeito, respeito, são umas cromas, têm os cadernos sempre impecáveis e nos testes não deixam copiar. Tenho dois rapazes amigos, bacanos, com quem posso falar de tudo. Chego a casa e logo falo com eles no Face. Até dúvidas tiro assim, na semana passada não sabia a matriz para o teste de Geografia e o Vasco respondeu logo. Há pouca malta fixe na turma, tenho pena de o dizer mas é mesmo assim!

Na escola há é malta com bué de problemas. Nem sei mesmo o que andam lá a fazer. Quando os professores se queixam para casa, os pais dão porrada e dizem que não podem continuar assim, mas nada muda. São sobretudo rapazes, ou então miúdas que gostam de curtir, na verdade acho que exageram e acabam por ser postas de parte. Estes meus colegas têm muitos problemas, eu sei, por isso não digo muito mal, às vezes até gramo dar uns toques na bola com eles… mas acho que a escola devia preocupar-se mais com estes alunos que são diferentes de nós. Dizem que tudo seria melhor se a escola tivesse psicólogo, mas não tem. Também penso que um psicólogo sem tempo, como aconteceu o ano passado de nada serve, bom era se os professores soubessem lidar com estes gajos, mas não sabem. Ainda não perceberam que quanto mais gritam e mandam para a rua, menos conseguem. Eles estão habituados a isso lá em casa, os pais bebem muito e são violentos, as mães estão sempre a chorar, aquilo deve ser um inferno. Não gostam de falar nisso, mas quando nós contamos coisas fixes que se passam em nossa casa percebemos que as coisas não correm bem e que ninguém na escola ajuda com os muitos problemas que eles têm.

Se um dia falasse com os senhores do governo, dizia para ouvirem mais a malta nova. Só nós sabemos bem o que se passa por aqui! Como se pode aprender em aulas que são uma bagunça, junto de colegas cheios de problemas na cabeça, com professores que já não sabem o que fazer com uma grande parte dos alunos?

Espero que alguém leia isto, vou por no Face.

Pedro Silva, 8º ano da Escola Pública da Rua do Lai vai Um.    

 
 

Esta crónica foi publicada na Revista 2, edição de 15 de Dezembro de 2013 o que ele quer. Diz que nós somos as mulheres e os homens do futuro, o Bruno diz que Portugal não tem futuro e que está toda a malta a emigrar. Eu não sei. Vejo que o entusiasmo dos professores não existe, estão todos lixados porque têm uma prova de avaliação e que o Ministério os trata mal. E não tenho paciência para ouvir os professores nem o Diretor: consigo sempre mandar umas mensagens sem que ninguém note e a minha cabeça está bem longe daquelas matérias que os stôres nos exigem. Penso no Benfica, ou então olho pela janela, imagino que dentro em pouco estarei a olhar para a Inês e a pensar que um dia vou ter uma conversa a sós com ela, num canto do pátio onde ninguém nos veja…
 

Tou no 8º D, uma turma onde pouca gente se aproveita. Das miúdas só uma é fixe, as outras estão sempre a falar em respeito, respeito, são umas cromas, têm os cadernos sempre impecáveis e nos testes não deixam copiar. Tenho dois rapazes amigos, bacanos, com quem posso falar de tudo. Chego a casa e logo falo com eles no Face. Até dúvidas tiro assim, na semana passada não sabia a matriz para o teste de Geografia e o Vasco respondeu logo. Há pouca malta fixe na turma, tenho pena de o dizer mas é mesmo assim!
 

Na escola há é malta com bué de problemas. Nem sei mesmo o que andam lá a fazer. Quando os professores se queixam para casa, os pais dão porrada e dizem que não podem continuar assim, mas nada muda. São sobretudo rapazes, ou então miúdas que gostam de curtir, na verdade acho que exageram e acabam por ser postas de parte. Estes meus colegas têm muitos problemas, eu sei, por isso não digo muito mal, às vezes até gramo dar uns toques na bola com eles… mas acho que a escola devia preocupar-se mais com estes alunos que são diferentes de nós. Dizem que tudo seria melhor se a escola tivesse psicólogo, mas não tem. Também penso que um psicólogo sem tempo, como aconteceu o ano passado de nada serve, bom era se os professores soubessem lidar com estes gajos, mas não sabem. Ainda não perceberam que quanto mais gritam e mandam para a rua, menos conseguem. Eles estão habituados a isso lá em casa, os pais bebem muito e são violentos, as mães estão sempre a chorar, aquilo deve ser um inferno. Não gostam de falar nisso, mas quando nós contamos coisas fixes que se passam em nossa casa percebemos que as coisas não correm bem e que ninguém na escola ajuda com os muitos problemas que eles têm.
 

Se um dia falasse com os senhores do governo, dizia para ouvirem mais a malta nova. Só nós sabemos bem o que se passa por aqui! Como se pode aprender em aulas que são uma bagunça, junto de colegas cheios de problemas na cabeça, com professores que já não sabem o que fazer com uma grande parte dos alunos?
 

Espero que alguém leia isto, vou por no Face.
 

Pedro Silva, 8º ano da Escola Pública da Rua do Lai vai Um.     
 

 
 

Esta crónica foi publicada na Revista 2, edição de 15 de Dezembro de 2013
 

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