Tanque das rémoras

Tive uma ideia, que reputo de genial, para um programa de televisão. É uma espécie de reality show para aspirantes a empresários. O concorrente tem uma ideia para um negócio, mas não sabe como é que a há-de desenvolver. Tem de falar com alguém que o encaminhe na direcção certa. É levado para uma sala onde estão sete membros do Governo português que vão analisar o projecto e, com a sua vasta experiência a atrapalhar a vida de empresários, apontar as várias taxas, regulamentos e entraves em geral com que vão abortar o negócio. Chama-se “Tanque das Rémoras”.

É como o Tanque de Tubarões, mas adaptado à realidade portuguesa. As rémoras são peixes que se agarram aos tubarões através de uma ventosa e vivem à sua custa. Sim, saiu-me o totoloto das metáforas. Cada rémora, perdão, cada ministro, apresenta ao concorrente uma proposta de como o irá esmifrar até falir. No episódio-piloto temos um empresário que quer abrir um minimercado. A primeira a falar é Assunção Cristas. Não é só por ser senhora, é também por ter muito jeito para lançar impostos de improviso. Chamam-lhe a Rorschach da Tributação, porque basta olhar para o esboço de um negócio e vem-lhe logo à cabeça uma taxa qualquer.
Ministra da Agricultura — Um minimercado? Posso pôr-lhe uma taxa de 50 cêntimos por cada saco de plástico que usar.
Empresário — Estava a pensar em usar sacos de papel…
Min. Agricultura — Papel? Papel, eucalipto… Então leva 12% de taxa ecológica!
Empresário — 12% de quê?
Min. Agricultura — Logo vemos.
Ministro da Saúde — Vai vender produtos que façam mal à saúde?
Empresário — Não, vou dedicar-me à fruta e legumes.
Min. Saúde — Ui! Verduras? Saiu agora um estudo que diz que se uma pessoa comer 700 kg de couve pode falecer. É melhor taxar.
Ministro do Emprego — Amigo, não ligue. As taxas são muito lindas, e tal, mas o grande custo está na mão-de-obra. Eu ofereço-lhe a hipótese de ter uma vistoria diária da Autoridade das Condições do Trabalho. Que lhe parece?
Empresário — É desagradável ter todos os dias a loja cheia de fiscais.
Min. Emprego — E mais! Só consegue despedir um trabalhador se o trabalhador o matar!
Empresário — Não faz sentido. Se eu estiver morto, não o consigo despedir.
Min. Emprego — É essa má vontade na relação com o Estado que faz com que o país não pare…
Ministro da Economia — Bom, até agora os meus colegas só falaram em minudências. Eu proponho subir-lhe o IVA em 2%.
Ministra das Finanças — Ai, é? Eu aumento o IRC em 3%!
Min. Economia — 4%!
Min. Finanças — 5% mais sobretaxa!
Min. Economia — 6% e uma fiscalização da ASAE logo no dia de abertura!
Ministro do Ambiente — Os seus clientes vão respirar, certo? Aplico-lhe um imposto sobre emissões de CO2! Se isto não bloqueia um negócio, não sei o que bloqueia.
Primeiro-ministro — Estou a gostar de ver! Estes aumentos de impostos são amigos do consumo.
Empresário — Amigos do consumo? Qual consumo?
Primeiro-ministro — Consumo de ansiolíticos. Não lhe apetece  meter já dois Lexotans no bucho?
Empresário — Por acaso, eu é mais Valium.
Primeiro-ministro — Valium em vez de Lexotan? Tudo bem, escolha o que quiser. Até pode ser Xanax. É à sua vontade. Não é por acaso que somos o Governo Mais Liberal de Sempre!
No fim, assistimos ao momento em que o empresário desiste e vai antes concorrer a um emprego na função pública. 

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