Passeio pela av. da Liberdade de circulação só para ricos

A proibição de circulação de carros velhos no centro de Lisboa é uma estupenda medida da edilidade contra o malévolo CO2. Infelizmente, não chega. Se o objectivo é fazer de Lisboa uma cidade menos poluída, não basta interditar chaços. Ao nível do arcaísmo, não devemos temer só os veículos. Os automobilistas mais antigos também prejudicam o ambiente. O idoso pratica um tipo de condução que favorece o aumento da queima de combustíveis fósseis, na medida em que circula muito devagar. Sucede que atrás dele seguem condutores com pressa, que chegam a meter duas abaixo para o ultrapassar. Isso polui. E depois ainda buzinam, o que configura um caso da também desagradável poluição sonora.

Deve ser inibido qualquer condutor que tenha tirado a carta quando ainda só havia duas auto-estradas Lisboa-Porto. Senão é como obrigar uma pessoa a ter um MacBook Air com o MS-DOS instalado. Não vale a pena instituir bom hardware e relevar mau software.

Mas há mais automobilistas que devem ser interditados. Nomeadamente, mulheres. Fui agora à janela efectuar um estudo e, 83% das vezes em que param num semáforo, as senhoras deixam o carro ir abaixo. O que em si não é mau. O pior é que depois insistem em ligar o carro outra vez. Ora, na ignição gasta-se muita gasolina. Além disso, quando a mulher deixa a viatura desligar-se, os outros condutores buzinam, o que configura um caso da também desagradável poluição sonora.

Barrem-se igualmente os motoristas estrangeiros do centro da nossa bela capital. Enganam-se nos caminhos, o que os obriga a fazer inversão de marcha, normalmente em carros com brecagem limitada. É o tipo de manobras que contribui para o efeito de estufa. E causam mini-engarrafamentos que provocam buzinadelas por banda dos automobilistas, o que configura um caso da também desagradável poluição sonora.

Mas, para já, a proibição é um bom princípio para proteger o centro de Lisboa. Depois só falta instalar a campânula gigante — igual àquelas com que se cobrem as tábuas de queijos — que irá impedir que o vento traga CO2 dos carros velhos que circulam legitimamente noutras partes da cidade. Já se sabe que o vento é velhaco e respeita pouco o ambiente.

Na zona nobre de Lisboa as únicas latas que se aceitam são as das mercearias gourmet que vendem conservas. A fiscalização que aperte. Conduzir em Lisboa não é para todos. Mesmo quem tem automóveis modernos deve ter cautela. Pode perfeitamente entrar no Marquês de Pombal com um carro dentro do prazo e, à conta da lentidão do trânsito desde que há duas rotundas, chegar aos Restauradores já ilegal.

Espero que António Costa seja eleito primeiro-ministro para aplicar estas medidas progressistas no país todo. Medidas que não pretendem discriminar os mais pobres. Pelo contrário, servem para os motivar a adquirir viaturas novas, com estofos mais confortáveis, ar condicionado e uma boa bagageira para guardar caixas de cartão. Tudo para terem melhor qualidade de vida quando forem morar para o carro.

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