Palavras, expressões e algumas irritações: forte

Só na quarta entrada do dicionário para “forte”, conseguimos chegar ao sentido que queríamos partilhar aqui. Ei-lo: “Obra de terra, alvenaria, cimento, betão armado, etc., rodeada ou não de fossos, de canhões e de metralhadoras em casamatas ou cúpulas couraçadas, e destinada a proteger uma cidade, um passo, a dominar uma posição para impedir o avanço do inimigo.”

Pensamos no “forte” de Peniche, que em rigor se designa “fortaleza”. E se a definição remete para um inimigo exterior, a memória remete para um inimigo maior lá dentro.

Ficou a saber-se esta semana que aquele espaço se transformará no Museu Nacional da Resistência contra a Ditadura (nome provisório), sendo o 15.º da Direcção-Geral do Património Cultural. “O museu e a valorização da fortaleza, onde ficará instalado, viram ser-lhes atribuída, num Conselho de Ministros especial, uma verba de 3,5 milhões de euros para a recuperação de todo este monumento nacional e para o respectivo projecto museográfico”, noticiou-se.

“Forte” também significa “firme”, “valoroso”, “corajoso”, “ousado”. Características que podem ser atribuídas aos presos políticos que conheceram a fortaleza nas piores circunstâncias das suas vidas. Alguns continuam “corajosos”, já que aceitaram revisitar as celas que em tempos ocuparam, guiando governantes no dia em que se comemoraram 43 anos da libertação dos últimos presos políticos de Peniche, 27 de Abril.

Um deles, Gaspar Barreira, só há poucos anos deixou de ter pesadelos em que continuava preso. Ainda assim, disse:  “Não gostava que isto fosse uma coisa dos coitadinhos, um muro das lamentações.” Defendendo que se tornasse um “lugar vivo”. É preciso ser-se “forte”. 

Palavras, expressões e algumas irritações é uma rubrica do caderno P2

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