Palavras, expressões e algumas irritações: debate

“Altercação”, “contenda”, “peleja”. Estas palavras descreveriam melhor o "debate" entre Marine Le e Emmanuel Macron.

Um “debate”, segundo o dicionário e também a nossa expectativa, corresponde a “análise de um tema, assunto ou problema, que pressupõe uma discussão durante a qual os participantes apontam os seus pontos de vista”.

Mas o que se passou esta semana no “frente-a-frente” entre os candidatos Marine Le Pen e Emmanuel Macron à presidência francesa, que se decide neste domingo, correspondeu mais a outros sentidos para o mesmo vocábulo: “altercação”, “contenda”, “peleja”.

“Nunca houve um debate assim em França, tão agressivo”, escreveu-se, a partir das palavras de Bruno Cautrès, investigador do Instituto Sciences Po. Para os comentadores políticos, “foi difícil de ver”. Para quem não quer deixar de acreditar na humanidade civilizada e na democracia, a “discussão” levou a sentimentos de vergonha e desconsolo. Demasiados insultos e mentiras (soube-se depois) e nada mediados pelos jornalistas presentes.

Bárbara Reis escreveu — no artigo de opinião “Debater ou não com a extrema-direita, eis questão” — que “Marine Le Pen não pode ser subestimada. E não deve ser deixada a falar sozinha”. Tem razão.

O especialista em assuntos internacionais Jorge Almeida Fernandes intitulou o seu texto sobre o debate “Merci, Marine Le Pen”, como uma possível e sincera homenagem dos seus adversários, já que, afirma, a candidata “assumiu brutal e agressivamente um rosto de extrema-direita” e “destruiu em duas horas o que levou anos a trabalhar: a sua estratégia de ‘desdiabolização’”. Também tem razão.

Macron foi mais contido e saiu-se bem melhor, o que não faz dele um santo. Espera-se um verdadeiro “debate” sobre os seus planos um pouco mais adiante.

Palavras, expressões e algumas irritações é uma rubrica do caderno P2

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